Luís Montenegro assumiu estas posições em declarações aos jornalistas, na Câmara do Porto, enquanto visitava uma exposição sobre a vida do fundador do PPD e antigo primeiro-ministro Francisco Sá Carneiro.
Acompanhado pelo presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, e pelos seus ministros Paulo Rangel, Pedro Duarte e Nuno Melo, Luís Montenegro disse que Sá Carneiro foi a sua fonte de inspiração desde que muito jovem se começou a interessar pela política.
O atual primeiro-ministro fez mesmo paralelismos entre alguns dos principais combates políticos que Sá Carneiro travou e aqueles que agora ele enfrenta, a começar pelas eleições intercalares de dezembro de 1979, que a AD venceu, e das quais partiu dez meses depois para o objetivo renovado de governar quatro anos com maioria absoluta no parlamento.
"Sá Carneiro, que já tinha tido maioria em 1979, fez a campanha em 1980, precisamente com o objetivo de ter uma maioria maior", assinalou Luís Montenegro.
A seguir, defendeu que, após chegar à liderança do PSD, em julho de 2022, não teve de fundar o partido, como Francisco Sá Carneiro, mas teve a missão de "o reerguer" como maior força política da oposição face a um Governo socialista de maioria absoluta.
"Propus-me reerguer o PSD de baixo para cima, ir ao encontro do país e reanimá-lo em todos os concelhos. Fiz um périplo que aliás me levou aos 308 municípios de Portugal - e foi muito com esta inspiração que esteve na base do PPD. Um partido popular e interclassista. Podiam ser tanto os profissionais liberais, o advogado, os engenheiros, os arquitetos, como também os operários, os eletricistas -- os mais dinâmicos nas suas áreas de atividade eram os mais reconhecidos, os mais dinâmicos", referiu.
Neste contexto, o atual líder dos sociais-democratas defendeu também que o partido conserva a matriz ideológica que esteve na base da sua fundação em 1974.
Luís Montenegro considerou que o PPD de Sá Carneiro tinha "uma janela ideológica relativamente limitada, um bocadinho comprimida entre o socialismo de um lado e a democracia cristã do outro".
"Mas acabou por se erguer como um grande partido, o partido que nós dizemos muitas vezes que é o partido mais popular de Portugal e em muitos momentos históricos, como é o caso agora, o maior partido popular", sustentou.
O presidente do PSD aproveitou este tema para retomar sua tese de que, do ponto de vista ideológico, o seu partido não é socialista nem liberal.
"Não somos socialistas, não somos liberais - exatamente aquilo que está ali nos textos da época da fundação. Não acreditamos que o Estado resolva tudo, mas também não acreditamos que o mercado resolva tudo por si", acentuou, dando como exemplos da necessidade de Estado social os setores da saúde, educação ou habitação.
A exposição apresenta fotografias e documentos do PPD, alguns deles secretos, designadamente do período pós 25 de Abril de 1997. Tem uma pasta só dedicada ao Processo Revolucionário em Curso (PREC) sobre a atuação das Forças Armadas e o IV Governo Constitucional de Vasco Gonçalves.
Na parte relativa aos primeiros anos da fundação do PPD, na exposição destaca-se a tentativa de Francisco Sá Carneiro de filiar o seu partido na Internacional Socialista, que, porém, acabou vetada pelo fundador e primeiro líder do PS, Mário.
Ainda dos primeiros anos da democracia, a exposição mostra fotografias e notícias de jornais de incidentes que ocorriam em comícios do PPD, sobretudo no sul do país, mas também manifestações de elevado apoio popular, sobretudo no norte de Portugal.
Outra parte da mostra, é dedicada aos dois governos da AD chefiados por Francisco Sá Carneiro, realçando-se entre outros episódios a entrega de terras a rendeiros e que tinham sido ocupadas após a revolução, mas também o objetivo político do fundador do PPD de rever a Constituição, "acabando com a tutela militar do regime" -- o que aconteceu já depois da sua morte em 1982.
Na parte final, refere-se o seguinte a propósito da sua morte em 04 de dezembro de 1980, na sequência da queda do avião Cessna em que seguia: "A polémica sobre se a morte se deveu a um acidente ou a um atentado nunca foi esclarecida. A sua morte súbita provocou um choque nacional".
[Notícia atualizada às 14h25]
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