O PS alcançou este domingo o terceiro pior resultado da sua história em legislativas, ficando quase empatado com o Chega, o que levou o seu líder, Pedro Nuno Santos, a apresentar a demissão um ano e meio após a sua eleição.
"Há razões estruturais e conjunturais para a queda do PS", afirma o politólogo António Costa Pinto, sublinhando que estes últimos prendem-se com "os oito anos de governação socialista" e com "o novo secretário-geral".
Já os fatores estruturais "não dizem respeito apenas ao PS, mas à clivagem estrutural" que o país enfrenta.
"Parece não haver dúvidas de que a direita recuperou, cresceu nos segmentos mais jovens", com os "menos educados" a votar Chega e "os segmentos mais jovens e mais educados" a votar "quer na AD, quer no Iniciativa Liberal", ao passo que "esquerda tem hoje um eleitorado envelhecido e perdeu segmentos muito importantes do eleitorado jovem", resume António Costa Pinto.
Também Paula Espírito Santo, professora do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP) da Universidade de Lisboa, refere que há uma "convergência de elementos" que levaram à queda abrupta do PS.
"A incapacidade de se fazer afirmar perante o Governo", bem com o facto de Pedro Nuno Santos não ter tido "uma liderança forte e carismática", além de ter sido penalizado pelos casos em que se viu envolvido enquanto ministro das Infraestruturas e Habitação, nomeadamente na indemnização de Alexandra Reis na TAP, são as razões apontadas pela politóloga para a queda eleitoral do PS.
Por outro lado, Susana Salgado, especialista em Comunicação Política e investigadora no Instituto de Ciências Sociais (ICDS) da Universidade de Lisboa, destaca a "herança" que foi deixada pelos oito anos de Governo de António Costa, em que "vários problemas foram deixados sem solução", bem como "as narrativas contraditórias" entre PS e PSD que antecederam à queda do Governo de Montenegro, que levaram a que Pedro Nuno não tivesse conseguido convencer "nem sequer o seu próprio eleitorado".
"Depois há a questão também do voto antissistema", acrescenta, salientando que "o voto no Chega não é só um voto de protesto", é "mais estrutural do que isso".
Com Chega e PS taco a taco em número de deputados e um parlamento virado à direita, - dado que AD, Chega e IL perfazem juntos mais de dois terços dos parlamentares, o que permite, por exemplo aprovar uma revisão constitucional - os politólogos ouvidos pela Lusa apontam que o crescimento da extrema direita deve servir de "alerta" aos "partidos do sistema", dado que estes votos protagonizam "o descontentamento da sociedade portuguesa", e que os resultados mostram que "os portugueses não desejavam" eleições.
"A dimensão mais importante [destas eleições] foi a quebra eleitoral do Partido Socialista, dando ao Chega a possibilidade de ser o 'challenger' na direita radical do atual Governo da AD, remata Costa Pinto, sublinhando que o grande "desafio" dos socialistas é recuperar o eleitorado nas eleições autárquicas.
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