A empresa, detida a 100% pelo Estado francês, ressalvou, no entanto, que ainda não é possível atribuir essa característica à origem do apagão que afetou milhões de consumidores em Portugal e Espanha em 28 de abril.
Num comunicado divulgado hoje para esclarecer dúvidas surgidas após a falha de fornecimento, a RTE indicou que a predominância de fontes como a solar e a eólica torna mais difícil garantir a inércia do sistema, ou seja, a sua capacidade de manter estabilidade em caso de perturbações.
A empresa sublinhou que este tema já tinha sido abordado num relatório conjunto com a Agência Internacional da Energia (AIE), publicado em 2021.
Segundo a RTE, um sistema que dependa quase exclusivamente de energias renováveis apresenta, do ponto de vista técnico, um risco superior ao de sistemas que mantêm uma proporção significativa de produção nuclear.
Neste contexto, a gestora das redes elétricas defende que são necessárias quatro condições para mitigar esses riscos: o reforço das redes, o acesso a fontes de energia convencionais (centrais nucleares, térmicas e hidroelétricas) noutros pontos do Velho Continente, novas formas de gestão e reservas operacionais, condições que, afirma, não estão atualmente reunidas.
Em França, cerca de 70% da eletricidade é gerada a partir da energia nuclear, e o governo liderado por Emmanuel Macron tem planos para construir seis novos reatores até 2050.
Em contraste, a Península Ibérica regista valores muito superiores de penetração renovável, como a RTE faz questão de sublinhar, embora reconheça que não dispõe de elementos que provem que isso tenha sido a causa do apagão.
A gestora de redes elétricas afirmou ainda estar disponível para colaborar no reforço das interligações com a Península Ibérica, mas advertiu que tal exigirá também investimentos na rede francesa.
Uma nova interligação de eletricidade que ligará Espanha e França através do Golfo da Biscaia está em construção e deverá elevar a capacidade de interligação para 5.000 megawatts. Atualmente, a capacidade é de 2.800 megawatts.
No entanto, mesmo com esse aumento, o volume de interligação ficará muito aquém dos objetivos definidos pela União Europeia, que estipulavam, para 2020, 10% do consumo e que deverão aumentar para 15% em 2030.
Por fim, o operador francês destacou que o plano de proteção do sistema funcionou eficazmente durante o incidente de abril, evitando a propagação do apagão para outros países europeus.
Em França, os efeitos limitaram-se a cortes breves no sudoeste do país e à paragem temporária de um reator na central nuclear de Golfech, perto de Toulouse.
Um corte generalizado no abastecimento elétrico afetou na segunda-feira, durante cerca de 10 a 11 horas, Portugal e Espanha, continuando sem ter explicação por parte das autoridades.
O congestionamento nos transportes, incluindo aeroportos, bem como no trânsito nas grandes cidades e a falta de combustíveis foram algumas das consequências do apagão.
A Rede Europeia de Gestores de Redes de Transporte de Eletricidade anunciou na semana passada a criação de um comité para investigar as causas do 'apagão' "excecional e grave" na Península Ibérica.
A organização disse que vai "investigar as causas essenciais, elaborar uma análise exaustiva e avançar com recomendações num relatório final".
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