Vários investigadores concluíram que a ativação do sistema imunitário materno durante a gravidez afeta o desenvolvimento neuronal do feto, uma vez que esta resposta a infeções interfere com a síntese de proteínas-chave ligadas à plasticidade cerebral.
Os investigadores do Instituto de Parasitologia e Biomedicina López-Neyra (IPBLN-CSIC), em colaboração com a Queen Mary University of London, no Reino Unido, e a Virginia Commonwealth University, nos Estados Unidos, demonstraram que a ativação do sistema imunitário materno durante a gravidez altera a regulação de proteínas-chave nas células estaminais neuronais do feto.
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O estudo, realizado em ratos, fornece novas provas de como os processos inflamatórios durante a gravidez podem estar ligados ao desenvolvimento de perturbações neuropsiquiátricas como a esquizofrenia e o autismo no bebé.
Os resultados do estudo, publicados na revista Molecular Psychiatry, baseiam-se em modelos celulares obtidos a partir de fetos de ratos cujas mães foram expostas a um agente viral sintético, um vírus da raiva modificado para simular a infeção.
A análise da regulação dos genes e das proteínas revelou "alterações significativas" na expressão e na fosforilação de uma proteína, chamada MAP2, que é fundamental para a estrutura neuronal e para a sinaptogénese, o processo pelo qual os neurónios formam ligações durante o desenvolvimento do cérebro.
Uma das conclusões mais importantes do estudo é que as alterações detetadas não ocorrem ao nível do ADN ou da transcrição dos genes.
"Isto significa que, embora os genes e as suas instruções permaneçam intactos, o mecanismo que regula a produção de proteínas é alterado, o que afeta quais as proteínas que são geradas e em que quantidade", explicou o investigador do IPBLN-CSIC e líder do estudo, Juan F. López-Giménez.
Neste caso, o estudo detetou que a ativação imunitária materna interfere na síntese e modificação de proteínas chave para o desenvolvimento neuronal, especialmente uma - a MAP2 - crucial para a estabilidade do citoesqueleto neuronal e para o processo que permite aos neurónios comunicar eficazmente.
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Estas alterações podem comprometer a conectividade neuronal e, a longo prazo, influenciar a plasticidade do cérebro em desenvolvimento.
"As alterações observadas podem comprometer a capacidade do cérebro em desenvolvimento para estabelecer ligações sinápticas adequadas, o que poderia explicar a ligação entre as infeções maternas e o risco de perturbações do desenvolvimento neurológico", acrescentou López-Giménez.
Este estudo faz parte de um projeto de investigação mais vasto financiado pelo Ministério da Ciência, Inovação e Universidades e pela Agência Estatal de Investigação e permitiu o desenvolvimento de um modelo experimental 'in vitro' baseado em células estaminais neuronais para o estudo da plasticidade neuronal.
Este modelo oferece uma alternativa mais ética e eficiente aos métodos tradicionais, uma vez que substitui as culturas primárias de tecidos cerebrais e reduz significativamente a utilização de animais experimentais.
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