"O Dia dos Namorados pode ser vivido de formas muito diferente pelos solteiros", começa por afirmar ao Lifestyle ao Minuto Filipa Jardim da Silva, psicóloga clínica e fundadora da Academia Transformar, lembrando que "pode ser um momento que amplifica sentimentos de solidão, rejeição, insegurança e tristeza por projetos e sonhos românticos e familiares ainda não se terem concretizado, a vida ter ido por um rumo diferente ao ambicionado ou até pela pressão social para se estar numa relação".
A especialista faz questão de frisar que "estar solteiro pode ser uma escolha consciente ou simplesmente uma fase natural" e que "nem todas as relações trazem felicidade".
Refere, por isso, que a data pode ser "um bom momento para refletirmos sobre o amor em todas as suas formas". Isto é, "em vez de nos focarmos no que supostamente falta, pode ser uma oportunidade para fortalecermos a relação mais importante de todas: com nós mesmos".
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Que efeito pode o Dia dos Namorados ter em solteiros?
O Dia dos Namorados pode ser vivido de formas muito diferente pelos solteiros. Para alguns, é um dia neutro ou até positivo, que encaram como uma celebração do amor no geral, incluindo amizades e autocuidado. Para outros, pode ser um momento que amplifica sentimentos de solidão, rejeição e insegurança e tristeza por projetos e sonhos românticos e familiares ainda não se terem concretizado, a vida ter ido por um rumo diferente ao ambicionado ou até pela pressão social para se estar numa relação
Esta data pode despoletar uma certa pressão.
Sim, especialmente devido à idealização do amor romântico promovida por redes sociais, publicidade e até por círculos próximos. Esta pressão pode vir de comparações com casais, da ideia de que todos têm alguém menos eu ou de crenças internalizadas sobre o sucesso pessoal estar ligado a estar numa relação.
O que podem as pessoas fazer para evitar que isso aconteça?
No fundo, redefinir o significado do dia. Devem celebrá-lo como um momento de amor próprio e social. Jantar com amigos, praticar o autocuidado ou fazer algo que traga bem-estar, por exemplo.
E quanto às comparações? Como é que podem contornar o que sentem ao deparem-se nas redes sociais com 'vidas perfeitas', muitas delas meramente ilusórias?
As redes sociais mostram apenas recortes idealizados da vida alheia. Além disso, aquilo que compõe o desenho de vida ideal para alguém não tem de ser idêntico a todos. Somos todos seres humanos, mas diferentes nas nossas prioridades, visões e valores. O ideal é focar-se no que já tem e sentir gratidão pelas relações, sejam familiares, amizades ou consigo mesmo.
Dos filmes e músicas às expetativas familiares e culturais, há uma narrativa dominante que associa sucesso e felicidade a estar num relacionamento. No entanto, essa ideia está a ser desconstruída
Frases e expressões como 'és encalhada', 'vais ficar para tia' e 'eterno solteirão' podem fazer com que solteiros se sintam mais sozinhos neste dia?
Naturalmente que sim. Pode fazer não só se sintam mais sozinhos, mas sobretudo, que se sintam a falhar, porque estes comentários reforçam estereótipos negativos sobre o estar solteiro, como se fosse um estado temporário ou indesejado. Estas expressões perpetuam a ideia de que uma vida plena só acontece dentro de um relacionamento, quando na verdade a felicidade e realização não dependem disso.
Considera que a sociedade continua a alimentar a ideia de que só as pessoas que estão numa relação são felizes?
Infelizmente, sim. Dos filmes e músicas às expetativas familiares e culturais, há uma narrativa dominante que associa sucesso e felicidade a estar num relacionamento. No entanto, essa ideia está a ser desconstruída.
Que passos podem ser dados nesse sentido?
Há cada vez mais valorização da individualidade e do bem-estar emocional independente do estado civil. Há cada mais desenhos de vida e de família que nos inspiram pela sua diversidade e que nos recordam que nisto de relações - e na vida no geral - não existe a perfeição ou um único caminho possível para se ser feliz.
Existem estratégias para melhor lidar com as críticas?
Com firmeza e humor. Normalmente, sugiro responder com frases como 'estou solteiro porque tenho critérios altos', 'estou numa relação incrível comigo mesmo', ou simplesmente ignorar pode ajudar. O mais importante é não permitir que comentários externos definam a autoestima ou o valor pessoal.
E para lidar com a pressão, o que recomenda?
Reforçar a própria narrativa. Estar solteiro pode ser uma escolha consciente ou simplesmente uma fase natural. Nem todas as relações trazem felicidade e o bem-estar não pode depender unicamente de um estado civil. O Dia dos Namorados pode, aliás, ser um bom momento para refletirmos sobre o amor em todas as suas formas. Em vez de nos focarmos no que supostamente falta, pode ser uma oportunidade para fortalecermos a relação mais importante de todas: com nós mesmos.
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