A ordem do presidente norte-americano, que fixou um prazo de duas semanas para definir quais os grupos que serão classificados como terroristas, abalou o Governo mexicano porque "é uma reação à estratégia" de "abraços, não de balas" do ex-Presidente Andrés Manuel López Obrador, defendeu hoje Clemente Romero Olmedo, especialista em segurança nacional da Cronem Consultores.
"[A política] Consistiu em ceder o controlo territorial e diversas atividades comerciais a organizações criminosas. A administração Sheinbaum está a tentar inverter a perceção de tolerância e indiferença da administração López Obrador em relação a estas organizações", apontou o especialista à agência Efe.
O consultor observou ainda que "é provável que políticos de alto nível no México, como os atuais ou antigos governadores, estejam a ser investigados por agências norte-americanas".
Trump denunciou que o México "é governado pelos cartéis", aos quais acusou de causar a morte de entre 250.000 e 300.000 norte-americanos por ano, enquanto o seu Conselheiro de Segurança Nacional, Michael Waltz, sustentou que estes grupos criminosos controlam 30% do território mexicano.
A Presidente Sheinbaum reconheceu que os Estados Unidos "podem agir no seu território", mas isso não significa que o México considere os cartéis terroristas, algo que os legisladores do Partido de Acção Nacional (PAN), de direita, a maior força de oposição, insistem há anos.
Sheinbaum acusou esta semana "algumas figuras da oposição" de "traição" por "celebrarem a intervenção" dos Estados Unidos, e considerou ainda que "sempre tiveram uma relação de subserviência".
Em reação, senadores do PAN, como Ricardo Anaya, Marko Cortés e Lilly Téllez, acusaram o partido no poder, o Movimento de Regeneração Nacional (Morena), de cumplicidade com o narcotráfico.
No partido no poder, o governador de Sinaloa, Rubén Rocha Moya, apoiou Sheinbaum e questionou o alcance da declaração de Trump, enquanto o estado que governa acumula mais de 600 mortes devido à luta interna do Cartel de Sinaloa após a captura do traficante Ismael 'El Mayo' Zambada nos Estados Unidos.
O decreto sobre os cartéis permitirá à administração do republicano Trump utilizar as ferramentas do 'Patriot Act', promulgado após os atentados de 11 de Setembro de 2001, explicou Romero Olmedo.
Poderá, assim, "aplicar toda a força do Estado e do Governo dos EUA para neutralizar estas organizações" no México, incluindo "perseguir e congelar os ativos financeiros destas organizações criminosas, as instituições financeiras que as auxiliam, ou intercetar qualquer comunicação por qualquer meio sem ordens judiciais", acrescentou.
A hipótese "de uma incursão armada unilateral dos Estados Unidos" é "muito improvável", mas "não impossível", sublinhou, por sua vez, Javier Oliva Posada, professor da Universidade Nacional Autónoma do México (UNAM) em Estudos sobre Democracia, Defesa, Dimensões de Segurança e Inteligência.
No entanto, o académico considerou que a ordem de Trump "teria repercussões muito severas" também para os Estados Unidos, onde os norte-americanos poderiam acabar acusados de colaborar com organizações terroristas por comprar ou vender uma arma que tenha ligação com o tráfico de droga.
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