O procurador do TPI, Karim Khan, anunciou na quinta-feira que vai pedir mandados de captura para o líder supremo dos talibãs, Hibatullah Akhundzada, e para o chefe do poder judicial afegão, Abdul Hakim Haqqani, por perseguição de mulheres, um crime contra a humanidade.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros do Afeganistão disse que os mandados contra os dois dirigentes talibãs "não têm qualquer base jurídica, assentam em dois pesos e duas medidas, e têm motivações políticas".
"É lamentável que esta instituição [TPI] ignore os crimes de guerra e os crimes contra a humanidade cometidos pelas forças estrangeiras e pelos seus aliados locais durante os 20 anos de ocupação do Afeganistão", afirmou o ministério, citado pela agência francesa AFP.
A diplomacia de Cabul acrescentou que o TPI não deve tentar impor uma interpretação específica dos direitos humanos a todo o mundo, ignorando os valores religiosos e nacionais de cada povo.
Simultaneamente, numa cerimónia de graduação numa escola corânica em Khost, no leste do país, o vice-ministro do Interior, Mohammed Nabi Omari, também denunciou a decisão do procurador do TPI.
"Eles não nos assustam com os seus tribunais", disse Omari, um antigo recluso da prisão norte-americana de Guantánamo por suspeita de terrorismo.
"Se estes tribunais fossem justos e imparciais, teriam colocado os Estados Unidos no banco dos réus, porque são eles que causam as guerras e os problemas do mundo", afirmou.
Omari acusou também o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, de ter matado "dezenas de milhares de palestinianos inocentes", referindo-se à guerra em Gaza em retaliação ao ataque do Hamas contra Israel, em 07 de outubro de 2023.
O dirigente afegão disse que Netanyahu não está preocupado com o TPI porque tem o apoio das potências mundiais.
Os talibãs regressaram ao poder em 2021, depois de derrotarem as autoridades apoiadas pela comunidade internacional e da retirada das tropas aliadas dos Estados Unidos, que tinham derrubado o seu regime 20 anos antes.
Desde então, as autoridades talibãs promulgaram uma série de leis inspiradas numa visão extremamente rigorosa do Islão que excluíram progressivamente as mulheres da vida pública.
O Afeganistão é o único país do mundo que proíbe as raparigas de estudarem para além da escola primária.
As mulheres afegãs também já não podem frequentar parques ou pavilhões desportivos e dificilmente podem sair de casa sem um acompanhante.
As Nações Unidas chamam a esta situação "'apartheid' de género".
A organização de defesa dos direitos humanos Amnistia Internacional saudou hoje o pedido de mandados de captura como "um desenvolvimento importante que dá esperança" às mulheres afegãs, "tanto dentro como fora do país".
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