Há quase um ano e meio, a Arménia tem vindo a fazer gestos crescentes de desafio a Moscovo, um aliado de longa data que lhe vendeu armas e que ainda tem uma base militar no território do pequeno país do Cáucaso.
Erevan critica Moscovo por não lhe dar apoio suficiente nos diferendos com o Azerbaijão, nomeadamente durante os conflitos armados em Karabakh, em 2020 e 2023.
A Arménia pretende lançar um processo de adesão à UE, potência rival da Rússia no Cáucaso, com base no projeto de lei aprovado hoje em primeira leitura, com 63 votos a favor e sete contra.
"Expressando a vontade do povo da República da Arménia, tendo estabelecido o objetivo de fazer da Arménia um país seguro e desenvolvido, a Arménia anuncia o início de um processo de adesão à UE", lê-se no projeto de lei.
O texto deve agora ser analisado em segunda leitura.
O projeto de lei foi apresentado pelo Governo aos deputados eleitos em 09 de janeiro.
Uma iniciativa cívica apoiada por partidos e organizações pró-europeias lançou em 2024 uma petição a favor do início de um processo de adesão, que reuniu cerca de 60.000 assinaturas num país de 2,7 milhões de habitantes.
O porta-voz da iniciativa cívica e antigo ministro da Justiça, Artak Zaonalian, defendeu o projeto de lei afirmando que a Europa era sinónimo de "liberdade, educação superior, tecnologias superiores, medicina de alto nível, estilo e gosto".
Segundo Zaonalian, o projeto de lei não visa a saída da Arménia da União Económica Eurasiática, uma aliança dominada por Moscovo da qual é membro desde 2015, mas "abrir novos mercados" para Erevan.
Os grupos da oposição no parlamento boicotaram a votação de hoje.
"Trata-se de um enorme 'bluff' político que não tem qualquer perspetiva" de sucesso, ironizou o partido da oposição "Arménia".
A Arménia acusou a Rússia de falta de apoio face ao Azerbaijão, que reconquistou pela força, no outono de 2023, toda a região azeri de Karabakh, de maioria arménia, controlada durante três décadas por separatistas apoiados por Erevan.
As forças de manutenção da paz russas destacadas em Karabakh não intervieram na ofensiva do Azerbaijão para fazer cumprir o cessar-fogo assinado no final de 2020 entre Baku e Erevan, após uma guerra de seis semanas.
A tomada da totalidade de Karabakh pelo Azerbaijão levou mais de 100.000 arménios a fugir do território por receio de represálias.
Desde então, Erevan tem vindo a distanciar-se de Moscovo.
No final de janeiro de 2024, a Arménia aderiu oficialmente ao Tribunal Penal Internacional (TPI), apesar dos avisos de Moscovo.
Em consequência, é agora obrigada a prender Vladimir Putin se pisar território arménio, devido a um mandado de captura emitido pelo TPI contra o Presidente russo em março de 2023.
Em julho de 2024, a Arménia acolheu igualmente exercícios militares conjuntos com os Estados Unidos.
A Rússia continua a ter uma base militar permanente em território arménio, em Gyoumri, e Erevan continua a ser membro da Organização do Tratado de Segurança Coletiva (OTSC), uma aliança militar liderada por Moscovo.
Simultaneamente, o governo da Geórgia, vizinha da Arménia, iniciou, segundo os seus detratores, uma deriva autoritária e uma aproximação à Rússia.
A Geórgia suspendeu em novembro de 2024 o processo de adesão à UE, apesar das grandes manifestações da oposição.
O Azerbaijão, a terceira república caucasiana a emergir da antiga União Soviética, é um aliado próximo da Turquia, adversário histórico da Arménia.
Atualmente, são candidatos à adesão à UE Albânia, Bósnia-Herzegovina, Geórgia, Macedónia do Norte, Moldova, Montenegro, Sérvia, Turquia e ucrania.
O Kosovo é considerado um potencial candidato.
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