Num comunicado emitido após concluir a visita, Jorge Moreira da Silva, que lidera o Escritório das Nações Unidas de Serviços para Projetos (UNOPS), indicou que testemunhou igualmente um "grau inimaginável de destruição de infraestrutura e casas, e um volume avassalador de escombros".
Segundo uma estimativa divulgada por Moreira da Silva, 40 milhões de toneladas de detritos e entulho foram gerados pelo conflito entre Israel e o Hamas ao longo de 15 meses, o que levará anos para ser removido.
Apesar de assinalar que o cessar-fogo proporcionou um alívio muito necessário à população de Gaza, o líder do UNOPS apelou à concentração de esforços para evitar um retorno à guerra, considerando que "seria uma tragédia absoluta".
"Não há tempo a perder. O UNOPS continua a apoiar os esforços da ONU para alcançar civis palestinianos necessitados e aumentar o apoio. Para isso, precisamos de acesso humanitário rápido, desimpedido e seguro para fornecer ajuda a todos", apelou, frisando que a agência que lidera está pronta para aumentar a entrega desse auxílio.
Jorge Moreira da Silva tem a seu cargo um mecanismo para facilitar, coordenar, monitorizar e verificar remessas de ajuda humanitária para Gaza, que foi determinado pelo secretário-geral da ONU, António Guterres.
Este mecanismo da ONU foi projetado para aumentar a velocidade e a eficiência da entrega de ajuda em Gaza e envolveu a orquestração de distribuições de ajuda em larga escala através de vários pontos de entrada terrestre.
Um dos focos do UNOPS tem sido a aquisição, entrega, monitorização e distribuição de combustível para Gaza, além de ajudar nos esforços para mitigar os perigos de minas terrestres e munições não detonadas.
"Durante a minha visita, tive a oportunidade de ver o impacto de parte do nosso trabalho. Vi o papel crucial que o UNOPS desempenha em manter serviços essenciais a funcionar através do fornecimento de combustível", explicou.
De acordo com o subsecretário-geral, em termos de combustível, os esforços do seu escritório aumentaram "em dez vezes" após o cessar-fogo.
Atualmente, aproximadamente 1,2 milhões de litros de combustível são fornecidos por dia para toda a operação humanitária em Gaza, assim como para serviços essenciais como hospitais e clínicas, telecomunicações e padarias, indicou o português.
"O fornecimento de combustível manteve operacionais serviços médicos que salvam vidas, como testemunhei durante uma visita ao Hospital Europeu em Khan Yunis. Mas as cicatrizes da guerra eram visíveis em todos os lugares neste hospital", contou.
"Os médicos contaram-me sobre as pressões extremas que enfrentaram nos últimos 15 meses: cirurgias sem anestesia, infeções pós-cirúrgicas devido à falta de antibióticos, bebés a morrer devido à falta de eletricidade para alimentar as incubadoras, cirurgias urgentes de cancro adiadas por mais de um ano devido ao fluxo maciço de feridos graves, entre muitos outros problemas", relatou Jorge Moreira da Silva.
Nesse mesmo hospital, o UNOPS instalou em anos anteriores sistemas solares híbridos para fornecer energia renovável. Contudo, com a guerra, o sistema solar está fora de operação.
"À medida que olhamos para a recuperação e reconstrução, este é um lembrete sobre a necessidade crucial de investir em energia renovável, para que os hospitais possam continuar a funcionar de maneiras mais limpas e sustentáveis", frisou.
Diante da tragédia humana que testemunhou em Gaza, Jorge Moreira da Silva salientou a "responsabilidade coletiva e urgente de agir", não apenas para atender às necessidades humanitárias agudas, mas também para planear a recuperação e a reconstrução do enclave palestiniano.
Quinze meses de guerra entre o Hamas e Israel na Faixa de Gaza provocaram mais de 48.000 mortos e um elevado nível de destruição de infraestruturas no território controlado pelo grupo extremista palestiniano desde 2007.
A ofensiva israelita foi desencadeada por um ataque do Hamas contra Israel, em 07 de outubro de 2023, que causou cerca de 1.200 mortos e o rapto de 250 pessoas que foram levadas como reféns para a Faixa de Gaza.
Os combates cessaram em 19 de janeiro, no âmbito de um acordo de cessar-fogo negociado por vários mediadores: Estados Unidos, Qatar e Egito.
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