"Na sexta-feira à noite, na Sala Oval da Casa Branca (em Washington), desenrolou-se uma cena espantosa perante as lentes do mundo inteiro, marcada pela brutalidade e pelo desejo de humilhar, com o objetivo de fazer ceder o Presidente ucraniano Volodymyr Zelensky através de ameaças, para que ceda às exigências dos seus agressores", disse Bayrou, durante um debate parlamentar sobre a Ucrânia.
Discursando perante a Assembleia Nacional, Bayrou sustentou que existem "duas vítimas nesta cena": a segurança da Ucrânia, "que está a lutar pela sua sobrevivência e pelos direitos das nações", desde a invasão russa em 24 de fevereiro de 2022, e "uma certa ideia da aliança" entre os países da liberdade e os Estados Unidos.
"Tudo isto foi resumido numa frase perante as câmaras do planeta: ou faz um acordo com Putin ou abandonamo-lo", afirmou Bayrou, referindo-se aos comentários de Trump na Sala Oval, em que ameaçou deixar 'cair' a Ucrânia se Zelensky não aceitasse um acordo.
Segundo o chefe de governo francês, "pela honra da responsabilidade democrática, pela honra da Ucrânia" e pela "honra da Europa, o Presidente Zelensky não cedeu", e, por essa razão, os franceses podem "estar-lhe gratos".
A pedido do primeiro-ministro, os deputados franceses aplaudiram de pé o Presidente ucraniano no hemiciclo da Assembleia Nacional, que contava com a presença do embaixador da Ucrânia, Vadym Omeltchenko.
As imagens da tensa reunião entre Trump e Zelensky na passada sexta-feira deram a volta ao mundo e geraram enorme contestação após o chefe de Estado norte-americano e o seu vice-Presidente, JD Vance, criticarem severamente o líder ucraniano por este não agradecer o apoio dos Estados Unidos e acusarem-no de não contribuir para um cenário que torne possível um plano de paz com o Presidente russo, Vladimir Putin.
Num momento sem precedentes, Trump elevou o seu tom da voz para dizer que seria "muito difícil" negociar com Zelensky e assegurou que o líder ucraniano não estava em posição de ditar condições relacionadas à guerra, tendo o Presidente ucraniano acabado por deixar prematuramente a Casa Branca sem assinar um acordo que permitiria a Washington a exploração de recursos naturais ucranianos.
A este episódio controverso seguiu-se uma onda de apoio ao Presidente ucraniano, especialmente por parte dos aliados europeus.
Na abertura do debate parlamentar, Bayrou afirmou ainda que a invasão total da Ucrânia pela Rússia, de Vladimir Putin, e as suas consequências diplomáticas deixaram a Europa em grande perigo, falando de "uma situação histórica".
"Aos nossos olhos, é a mais grave, a mais desestabilizante, a mais perigosa de todas as que o nosso país e o nosso continente viveram desde o final da Segunda Guerra Mundial", considerou.
Perante um hemiciclo atento e silencioso, Bayrou afirmou que "a União Europeia é o único caminho e a única estratégia possível" para "garantir a segurança e a defesa da Europa", defendendo uma autonomia e independência europeia.
"Somos fortes e não o sabemos, mas comportamo-nos como se fôssemos fracos", lamentou François Bayrou, sublinhando que "o produto interno da União Europeia, somado ao do Reino Unido, é mais de dez vezes superior ao produto interno da Rússia".
O debate sem votação foi seguido de um orador de cada grupo parlamentar, com a líder da extrema-direita União Nacional (RN), Marine Le Pen, a manifestar preocupação com o "abandono gradual do papel único da França como potência de equilíbrio", apelando ao "apoio à Ucrânia" com "realismo" e tendo em conta os interesses nacionais.
Le Pen reiterou ainda a sua oposição à adesão da Ucrânia à União Europeia ou à NATO (Organização do Tratado do Atlântico-Norte, bloco de defesa ocidental) e a partilha da capacidade de dissuasão nuclear e o envio de tropas francesas para a Ucrânia.
"Vamos acelerar o processo de adesão da Ucrânia à União Europeia", defendeu o ex-primeiro-ministro, líder do grupo de deputados do Renascimento e presidente do grupo de amizade franco-ucraniano, Gabriel Attal.
Já o presidente do grupo socialista, Boris Vallaud, defendeu "um grande empréstimo comum de 500 mil milhões de euros" na Europa, com regras orçamentais "revistas", e pediu que a lei de programação militar em França fosse "atualizada".
Na terça-feira, ocorre uma sessão sobre a Ucrânia e a segurança na Europa no Senado francês.
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