"Este caso marca um passo fundamental na luta contra a impunidade dos autores de graves violações do direito internacional humanitário", afirmou a procuradoria ucraniana num comunicado.
Vojislav Torden, líder do grupo paramilitar neonazi "Rusich Group", foi condenado hoje na Finlândia a prisão perpétua após ser acusado de cometer quatro crimes de guerra no leste da Ucrânia em 2014.
A sentença "surpreendeu" o condenado, que vai recorrer, disse o seu advogado Heikki Lampela, citado pela imprensa finlandesa.
Detido na Finlândia desde julho de 2023, o homem de 38 anos foi condenado nomeadamente por ter desfigurado um prisioneiro ucraniano ferido, informou o tribunal de Helsínquia no seu comunicado.
Torden foi acusado de participar, no outono de 2014, juntamente com os seus companheiros, no assassínio de 22 soldados ucranianos na região separatista pró-russa de Lugansk, no leste da Ucrânia, durante uma emboscada. Esta primeira acusação foi rejeitada pelo tribunal no seu veredicto.
"As provas não permitiram estabelecer com certeza que o grupo Rusich foi o único responsável pela emboscada. Outros grupos armados também estiveram presentes na cena", segundo o tribunal.
As outras acusações pelas quais o cidadão russo foi condenado dizem respeito aos métodos bárbaros utilizados no ataque.
Em particular, foi considerado culpado pelo assassínio de um soldado ucraniano ferido, de acordo com o tribunal.
O líder autorizou, naquele momento, combatentes sob o seu comando a mutilar um soldado ucraniano, Ivan Issyk, que morreu na sequência dos ferimentos, cortando-lhe a face para inscrever o símbolo utilizado pelo grupo, o "kolovrat" ou roda de fiar, um emblema frequentemente utilizado por grupos ultranacionalistas e neonazis na Rússia e na Europa de Leste.
Outros dois crimes de guerra pelos quais foi condenado incluem tirar e distribuir fotografias humilhantes de combatentes paramilitares a posar em frente ao cadáver de um soldado, assim como a divulgação de mensagens na internet alegando que Rusich não demonstrava misericórdia, acrescentou o tribunal na sua declaração.
O Supremo Tribunal da Finlândia já decidiu não extraditar Vojislav Torden para a Ucrânia, alegando o risco de condições desumanas de detenção.
A Finlândia aplica o princípio da jurisdição universal para este tipo de crime, o que significa que pode processar certos crimes graves, independentemente do local onde foram cometidos.
Em 2014, a Rússia anexou a região ucraniana da Crimeia ao seu território e já apoiava os separatistas ucranianos pró-russos no leste do país. Em 24 de fevereiro de 2022, as forças militares da Rússia invadiram a Ucrânia.
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