Tal como aconteceu na cimeira extraordinária de há duas semanas, neste Conselho Europeu, que começa na quinta-feira e se pode estender até sexta-feira, deverá ser adotado um texto de conclusões do presidente da instituição, António Costa, subscrito pelos 26 Estados-membros sem a Hungria sobre o apoio da UE à Ucrânia, anteciparam fontes comunitárias na véspera do encontro.
Com a Hungria a manter a sua oposição à ajuda a Kyiv por considerar que os direitos das minorias húngaras na Ucrânia não são salvaguardados, previsto está que, nesse texto, "o Conselho Europeu apele à Rússia para que demonstre uma verdadeira vontade política de pôr termo à guerra", segundo um rascunho consultado pela agência Lusa.
No documento preliminar, os 26 chefes de Governo e de Estado da UE -- incluindo o primeiro-ministro português, Luís Montenegro -- admitem estar "dispostos a intensificar a pressão sobre a Rússia, nomeadamente através de novas sanções e do reforço da aplicação das medidas existentes" e vincam que "todo o apoio militar, bem como as garantias de segurança para a Ucrânia, serão prestados no pleno respeito da política de segurança e defesa" e dos interesses dos países.
Isto quando se falam de conversações de paz, após a proposta de cessar-fogo norte-americana, e no qual a UE entende que a Ucrânia deve estar na posição mais forte possível antes, durante e depois das negociações para pôr termo à guerra.
Depois de o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, ter afirmado que o seu homólogo russo, Vladimir Putin, rejeitou a proposta dos Estados Unidos e que prosseguiu os ataques contra a Ucrânia, os líderes da UE vão analisar esse cessar-fogo parcial e os próximos passos.
"Não querem [os húngaros], ficam de fora. Há uma tendência no Conselho Europeu de não perder tempo" com a oposição húngara, comentou um alto funcionário europeu.
Um outro acrescentou: "Ninguém tem dúvidas de que existe uma divergência com um Estado-membro, pelo que o objetivo deve ser sempre chegar a conclusões a 27 e, se não for possível, se a divergência estratégica se mantiver -- e temos todas as indicações de que se mantém --, então avançaremos a 26".
Volodymyr Zelensky irá participar no arranque do Conselho Europeu (que começa pelas 11:00, menos uma hora em Lisboa) por videoconferência.
Até hoje, a UE concedeu 138,2 mil milhões de euros à Ucrânia, incluindo 49,3 mil milhões de euros em apoio militar e, em termos de ajuda financeira, o bloco europeu contribuirá com 30,6 mil milhões de euros para Kyiv em 2025.
Além da questão ucraniana, a reunião do Conselho Europeu servirá para debater as próximas medidas em matéria de defesa, nomeadamente após a Comissão Europeia ter proposto um plano de rearmamento no valor de 800 mil milhões de euros e apresentado um livro branco com medidas a serem adotadas até 2030, numa altura em que a UE acelera os esforços para reforçar as suas capacidades militares face aos desafios imediatos e futuros.
Ainda no que toca ao financiamento, os líderes da UE vão ter uma primeira troca de pontos de vista sobre o próximo orçamento de longo prazo (2028-2034) e os novos recursos próprios para o suportarem, antes de a Comissão Europeia apresentar a sua proposta no próximo verão.
Estima-se que a UE possa ter de gastar 250 mil milhões de euros por ano, o equivalente a 3,5% do seu Produto Interno Bruto (PIB), para a sua segurança num contexto de tensões geopolíticas como a guerra da Ucrânia causada pela invasão russa.
Atualmente, o bloco comunitário no seu conjunto aloca cerca de 1,9% do seu PIB a gastos com defesa e Portugal está abaixo desse valor (1,55% do PIB).
Outros assuntos em cima da mesa são os recentes desenvolvimentos no Médio Oriente, dados os novos bombardeamentos israelitas em Gaza, a gestão migratória e o multilateralismo, com esta última discussão a acontecer num almoço de trabalho com o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, que está em Bruxelas.
Num Conselho Europeu dedicado ao tema da Competitividade e dominado pela atualidade, Portugal estará representado pelo primeiro-ministro, Luís Montenegro, que hoje participou no parlamento no debate preparatório sobre a reunião em Bruxelas.
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