"O dia de hoje marca a reabertura do Fórum para o Diálogo Democrático, 24 anos após o seu encerramento", anunciou a sua presidente, a advogada Joumana Seif.
"Este lugar tem um valor simbólico especial: foi aqui que a oposição síria se reuniu (...) e que a 'primavera de Damasco' foi cortada pela raiz", prosseguiu perante uma sala cheia.
O Fórum pretende ser "um espaço de liberdade": "A luta continua para construir a nova Síria democrática com que sonhamos", acrescentou Joumana Seif.
O Fórum foi fundado pelo pai de Seif, o antigo deputado Riad Seif, na sua própria casa, durante a curta "primavera de Damasco" que se seguiu à ascensão de Bashar al-Assad à presidência em 2000, sucedendo ao seu pai, Hafez al-Assad.
Poucos meses depois, as autoridades prenderam milhares de opositores e encerraram movimentos ligados à oposição, incluindo o Fórum para o Diálogo Democrático.
O antigo deputado Riad Seif foi condenado a seis anos de prisão por ter enfrentado o regime.
A sessão de hoje do Fórum foi dedicada à "paz civil e justiça de transição" num país que está a emergir de mais de 14 anos de guerra.
"O lançamento do processo de justiça de transição na Síria é extremamente importante", sublinhou o investigador Radwan Ziadeh durante a sessão de relançamento, afirmando que "o tempo da impunidade acabou".
Riad Seif deixou a Síria em 2012, após o início da guerra civil que eclodiu na sequência de uma revolta popular que foi reprimida de forma sangrenta pelo antigo presidente.
Só regressou após a queda de Bashar al-Assad, em dezembro de 2024.
Uma coligação islamista tomou o poder e o seu líder, Ahmad al-Charaa, foi proclamado Presidente por um período transitório de cinco anos.
"Todas as medidas tomadas nos últimos quatro meses não são de bom augúrio para a construção de um Estado moderno e civil" e para a preservação das 'liberdades democráticas', disse à AFP Mounif Melhem, que participou nas actividades do Fórum em 2001 e se encontrava hoje entre os presentes.
"Este fórum pode abrir a porta ao diálogo para unir os sírios em torno de um projeto de Estado moderno", acrescentou o antigo preso político de 75 anos.
A Síria vive um novo ciclo após quase 14 anos de guerra civil, na sequência de uma operação militar relâmpago que depôs em 08 de dezembro de 2024 Bashar al-Assad, atualmente exilado na Rússia.
A ofensiva foi realizada por uma coligação de grupos armados rebeldes, liderada pela Organização para a Libertação do Levante (Hayat Tahrir al-Sham, HTS), liderado por Ahmad al-Charaa.
Desde então, cerca de 400 mil sírios regressaram ao seu país vindos de nações vizinhas desde o início de dezembro, segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR).
No mesmo período, mais de um milhão de deslocados internos sírios também regressaram a casa, segundo a agência da ONU.
Em 2020, o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH) estimou que 511 mil pessoas morreram na guerra civil síria, com 350 mil identificadas nominalmente.
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