"A democracia está longe para Moçambique. Se você tem uma opinião diferente, você será perseguido (...) Ainda não temos democracia neste país", declarou Joel Amaral à comunicação social, à porta do Hospital Central de Quelimane, momentos após receber alta.
Amaral, que esteve em cuidados hospitalares intensivos nas últimas semanas, foi baleado no dia 13 de abril no bairro Cualane 2.º, na cidade de Quelimane, província da Zambézia, por um grupo que se deslocava numa viatura todo terreno, quando a vítima seguia numa bicicleta.
Uma das balas disparadas atingiu o couro cabeludo de Joel Amaral, sem, no entanto, atingir o osso do crânio, avançou, dias após o incidente, o hospital, onde o músico devera continuar a receber assistência, apesar da alta.
"Não estou seguro neste momento. Estou a viver num sítio que somente a família sabe (...), não estou livre para circular porque ainda há riscos graves", declarou.
Joel Amaral é um músico e aliado do ex-candidato presidencial Venâncio Mondlane, atualmente o principal opositor do partido no poder em Moçambique, a Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo).
Amaral é o autor de temas que mobilizaram apoiantes de Mondlane nas campanhas eleitorais para as autárquicas (2023) e depois para as presidenciais (2024).
A Polícia da República de Moçambique (PRM) disse, na quarta-feira, que prosseguem investigações para esclarecer o baleamento de Amaral, que se encontram em "segredo de justiça".
Mondlane, que classificou o baleamento de Amaral como mais um caso de "intolerância política", ameaçou hoje convocar protestos "100 vezes piores" se a "perseguição política" aos seus apoiantes continuar, após visitar o músico na província da Zambézia.
Logo após as eleições gerais de 2024, o assessor jurídico de Venâncio Mondlane, o conhecido advogado Elvino Dias, e o mandatário do Podemos, Paulo Cuambe, partido que apoiava a sua candidatura presidencial, foram baleados mortalmente na noite de 18 de outubro, no centro de Maputo, com tiros de metralhadora, num crime que provocou a comoção na sociedade moçambicana e que continua por esclarecer.
O ex-candidato, que rejeita os resultados das eleições de 09 de outubro, liderou, nos últimos cinco meses, a pior contestação aos resultados eleitorais que o país conheceu desde as primeiras eleições multipartidárias (1994).
Quase 400 pessoas perderam a vida em resultado de confrontos entre a polícia e os manifestantes, segundo dados de organizações da sociedade civil, degenerando, igualmente, em saques e destruição de empresas e infraestruturas públicas.
O Governo moçambicano confirmou anteriormente, pelo menos, 80 óbitos, além da destruição de 1.677 estabelecimentos comerciais, 177 escolas e 23 unidades sanitárias durante as manifestações.
Contudo, em 23 de março, Mondlane e Daniel Chapo, Presidente já empossado, encontraram-se pela primeira vez e foi assumido o compromisso de acabar com a violência pós-eleitoral no país, embora, atualmente, críticas e acusações mútuas continuem nos posicionamentos públicos dos dois políticos.
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