Independência de ex-colónias valeu "direitos", mas "falhou saúde"

A especialista em estudos pós-coloniais Inocência Mata considera que os direitos da mulher, a educação e a cidadania foram as principais conquistas da independência das ex-colónias portuguesas, onde a saúde tem sido um "falhanço total".

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Lusa
11/05/2025 06:13 ‧ ontem por Lusa

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Ex-colónias

"Os direitos da mulher, não obstante os meandros da mentalidade, a massificação da educação e a construção de uma cidadania" foram os grandes avanços que, há 50 anos, a independência destes países proporcionou.

 

A professora da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, que enaltece a construção da cidadania, também avança que esta falhou.

"O Estado assumiu-se como pai até hoje e isso não foi bom. Isso não foi nada bom, porque hoje as pessoas pensam que o Estado é o pai. As pessoas pensam que o Estado é o pai, portanto o Estado tem, inclusive, de varrer a porta da sua casa. O Estado não é o pai", diz a investigadora de origem são-tomense, em entrevista à agência Lusa.

Inocência Mata defende "uma cidadania participativa" em que as pessoas reivindiquem.

Na ótica da ensaísta, se há área em que houve um falhanço total nestes 50 anos de independências, que assinalam este ano em Angola, Cabo Verde, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste, foi a saúde.

"Sinceramente, foi um falhanço total. É verdade que houve uma massificação de saúde, mas não foram criadas as condições para isso. É inadmissível que as pessoas tenham uma dor de dente e vão, se têm dinheiro, tratar-se para o Gabão ou vêm para Portugal. No caso de Angola, ou vão para a África do Sul ou para a Namíbia. Isto é inadmissível".

E prossegue: "É inadmissível, como já aconteceu, por exemplo em Angola, as pessoas terem um ataque de asma e morrerem porque não há oxigénio nos hospitais".

Inocência Mata considera que "os nacionalistas não conseguiram fazer a transição do nacionalista para o governante e isso fez, primeiro, com que o regime fosse um regime muito monolítico e, em certos casos, autocrático".

Dá o caso de São Tomé e Príncipe, por exemplo, que começou por ser um regime monolítico, mas que passou a regime autocrático, porque "a partir de uma certa altura, já não era o MLSTP, era o Pinto da Costa e mais ninguém".

E recorda que o seu pai, um anticolonialista e antifascista, que passou "a vida toda a lutar contra o fascismo" e era por isso perseguido pela PIDE, quando se insurgiu contra o facto de, após a independência, também não poder dizer nada, "foi preso e foi executado numa cadeia".

Em Angola também se registaram execuções, tal como em Moçambique e na Guiné-Bissau, e mesmo em Cabo Verde nem tudo foi um mar de rosas, embora tenha sido bastante diferente, disse.

Para Inocência Mata, faltou a estes novos poderes a capacidade de "aliar o saber ao poder", optando antes por ostracizar e marginalizar quem não tinha a mesma opinião.

Leia Também: Jornalistas das ex-colónias portuguesas assediados com leis da era colonial

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