Polónia inicia corrida para segunda volta com "dois países" em confronto

A primeira volta das presidenciais na Polónia, realizada no domingo, confirmou a forte polarização no país, mas abriu a esperança do espaço nacionalista e foi um aviso para o Governo liberal europeísta de Donald Tusk.

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© Omar Marques/Getty Images

Lusa
19/05/2025 19:42 ‧ há 3 horas por Lusa

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O candidato apoiado pela Plataforma Cívica (PO) de Tusk, o presidente da Câmara de Varsóvia, Rafal Trzaskowski, e o historiador conservador que conta com o apoio do maior partido de oposição, Lei e Justiça (PiS), Karol Nawrocki, ficaram separados por uma curta margem e vão discutir a segunda volta agendada para 01 de junho.

 

Trzaskowski obteve 31,36% dos votos e Nawrocki 29,54%, acima do esperado, de acordo com os resultados finais divulgados hoje de manhã, que colocam atrás de ambos dois candidatos de extrema-direita.

"A campanha nas próximas duas semanas será muito polarizadora e brutal --- um confronto de duas visões da Polónia: uma pró-União Europeia, liberal e progressista contra outra nacionalista, trumpista e conservadora", destaca Piotr Buras, chefe do gabinete em Varsóvia do Conselho Europeu de Relações Externas, citado pelas agências noticiosas Associated Press (AP) e France-Presse (AFP).

A disputa é mais ampla do que o cargo presidencial, estando também em causa a margem política da coligação governamental para reaproximar Varsóvia de Bruxelas, após oito anos de confrontação do anterior executivo do PiS, e a concretização das propostas eleitorais de revisão da lei do aborto e direitos das minorias sexuais.

Esta agenda tem sido condicionada pelo poder de veto do atual chefe de Estado apoiado pelo PiS, Andrzej Duda, que chegou ao limite de mandatos, mas o bloqueio presidencial poderá prosseguir em caso de vitória de Karol Nawrocki.

Após a votação no domingo, Trzaskowski e Nawrocki não perderam tempo e saíram hoje às ruas para se encontrarem com os eleitores.

O autarca de Varsóvia, que perdeu há cinco anos por curta margem para Duda, distribuiu pães doces de fermento nas ruas de Kielce, no sudeste do país, enquanto o historiador, favorito do Presidente norte-americano, Donald Trump, ofereceu donuts e posou para 'selfies' com apoiantes em Gdansk, no norte e de onde é natural.

Trzaskowski partia favorito nas sondagens para estas eleições, mas, perante os resultados no domingo, reconheceu que será preciso "muito trabalho" e unidade para chegar à meta, bem como do voto dos jovens, que terá de convencer que "vale a pena votar numa Polónia normal, e não numa Polónia radical".

Já o adversário nacionalista mostrou-se "cheio de energia e entusiasmo no caminho para a vitória".

O destino político de ambos depende, em grande parte, dos eleitores que escolheram outros candidatos na primeira volta, e pode ser difícil prever como irão votar.

No domingo, mais de 20% optaram por candidatos da extrema-direita, cujas visões conservadoras e nacionalistas são mais radicais do que as ideias de Nawrocki, mas, somados todos os votos, valem neste momento mais de metade do eleitorado.

Slawomir Mentzen, um libertário radical da Confederação (extrema-direita), obteve 14,8% e, numa das maiores surpresas eleitorais, o extremista populista Grzegorz Braun, que acumula acusações de antissemitismo e ações de provocação, obteve mais de 6%.

Estes dois políticos radicais são também acusados de manterem posições pró-Kremlin (presidência russa), quando os dois favoritos defendem o apoio a Kiev para se defender da agressão russa, ainda que pretendam rever os benefícios sociais a cerca de um milhão de refugiados ucranianos.

"Os candidatos de direita e de extrema-direita obtiveram até 54% dos votos --- este é o resultado mais surpreendente da primeira volta da eleição presidencial", comentou Buras, o que "coloca Nawrocki numa posição favorável antes da segunda volta.

De acordo com uma sondagem divulgada hoje pela estação de rádio polaca ZET, 70% dos eleitores ultraconservadores votariam em Nawrocki no dia 01 de junho, atraídos pela sua retórica anti-imigrante e pela defesa da soberania nacional, num gesto de "voto útil" semelhante ao que motivou os eleitores indecisos a apoiar Tusk em 2023.

Em contraste, apenas 15% a 20% destes eleitores optariam por Trzaskowski.

Os candidatos dos outros partidos da coligação governamental obtiveram pelo seu lado resultados modestos no domingo, com Szymon Holownia (Terceira Via) e atual presidente do parlamento, a conseguir apenas 5%, enquanto os candidatos de esquerda Magdalena Biejat e Adrian Zandberg receberam ainda menos votos.

Segundo Piotr Buras, "a vitória de Nawrocki minaria o projeto político liberal pró-europeu de Tusk e poderia anunciar o regresso dos nacionalistas conservadores do PiS ao poder em 2027 ou mesmo antes, no caso de eleições antecipadas".

Espera-se que a campanha se torne mais agressiva, com ataques renovados nas últimas semanas, com Trzaskowski a acusar os conservadores de "vender a Polónia aos fundamentalistas" e o PiS a criticar Tusk e os seus seguidores por imporem a "agenda da (comunidade) LGBT [lésbicas, gays, bissexuais e trans] ditada por Bruxelas".

Leia Também: A ascensão da direita radical e da extrema-direita na Europa: O essencial

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