A líder parlamentar do Partido Socialista (PS), Alexandra Leitão, assumiu que a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) não era o método que o partido queria para obter esclarecimentos por parte do primeiro-ministro, Luís Montenegro, e rejeitou que o país esteja numa crise política por culpa dos socialistas.
"Qualquer que seja o sentido de voto na moção de confiança, rejeitamos completamente que tenha sido o Partido Socialista a criar uma crise política", sublinhou a socialista em entrevista à CNN Portugal, quando questionada sobre se será possível o PS mudar de ideias em relação à moção de confiança. Note-se que o secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, já disse que iria chumbar a moção de confiança, algo que Alexandra Leitão recordou.
A socialista reconheceu que na procura de esclarecimentos foram dadas "algumas respostas", mas "não houve nunca uma resposta cabal".
Afirmando que o PS "tem muitas perguntas" para fazer, cerca de "trinta e tal", Alexandra Leitão lembrou a declaração de Montenegro no sábado, durante a qual o primeiro-ministro assumiu que os esclarecimentos estavam dados, e falou da eventualidade de uma Comissão Parlamentar de Inquérito acontecer: "A Comissão Parlamentar de Inquérito é um instrumento parlamentar que existe. Perante uma CPI, o primeiro-ministro optou por pôr uma moção de confiança".
Questionada sobre a possibilidade de ainda questionar o Governo por escrito, Alexandra Leitão reforçou: "No sábado, o primeiro-ministro disse que não respondia mais. A partir do momento em que o primeiro-ministro deu por encerrado do seu lado os esclarecimentos, porque é que havíamos de pedir mais esclarecimentos?"
"Se o primeiro-ministro é tão avesso a prestar esclarecimentos e ao escrutínio que prefere pôr uma moção de confiança e consequentemente levar o país para eleições ou crise política - para fugir a uma CPI -, acho que daí os portugueses têm de tirar uma ilação sobre porque é que o primeiro-ministro não quer sujeitar-se a um instrumento democrático que é a CPI", sublinhou.
Quanto à possibilidade de uma ida a votos antecipadas, Alexandra Leitão foi assertiva: "O PS não quer criar uma crise política. Não quer eleições antecipadas. Não tem medo delas, mas não as quer forçar. Que sim, esclarecimentos".
A socialista assumiu que a CPI não era o instrumento que o PS "gostava particularmente" para obter esclarecimentos neste caso, mas que ao longo do tempo a situação foi piorando. "Desde logo, ficámos a saber que o senhor primeiro-ministro não recebia dinheiro antes da empresa, recebia ainda hoje como primeiro-ministro", exemplificou.
Questionada sobre se o PS iria chamar a família do primeiro-ministro, garantiu: "Faremos tudo para evitar que isso seja necessário. Há várias possibilidades para tornar uma CPI o mais rigorosa possível e enxuta possível no sentido em que procura informações e não faça daquilo uma outra coisa."
Alexandra Leitão defendeu ainda que "é bom para a democracia" que não haja dúvidas sobre o que pode ou não um primeiro-ministro. "Fica criado um precedente complicado. É que, a partir de agora, qualquer primeiro-ministro pode ter outra fonte de de rendimento", referiu.
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