Na abertura do debate da moção de censura do PCP ao Governo, na Assembleia da República, Paulo Raimundo defendeu que "a sucessão de factos que se acumulam, envolvendo membros do Governo e o próprio primeiro-ministro, não são obra do acaso"
"São expressão da mistura entre funções públicas e interesses pessoais, e da confusão entre a sua política e o poder económico", afirmou, salientando que o partido denuncia há muito "que o Governo está ao serviço dos interesses dos grupos económicos".
Frisando que o Governo e o primeiro-ministro "podem e devem" dar "todos os esclarecimentos a todas as perguntas", Paulo Raimundo considerou, contudo, que "daí não surgirão elementos que alterem a inevitável e urgente decisão que se impõe hoje".
"Nada do que venha agora a dizer altera os factos até hoje conhecidos e que são, por si só, bastantes para concluir que o Governo não tem condições para se manter em funções", defendeu.
Para o secretário-geral do PCP, "a situação em que o primeiro-ministro e o Governo se encontram coloca a urgência de uma clarificação".
"Não fazê-lo hoje é arrastar a situação e alimentar a degradação da vida política nacional", defendeu.
Numa alusão às críticas do secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos - que acusou o PCP de ter "mordido o isco" ao apresentar uma moção de censura -, Paulo Raimundo considerou que essas críticas foram precipitadas e mostram que quem as fez está "profundamente desoriente e preso nos seus compromissos".
"Não foi o PCP que mordeu o isco, foram outros que caíram na rede e no truque que o Governo lançou para garantir a todo o custo a sua sobrevivência. O que o Governo queria, e há quem lhe tenha feito a vontade, era que todos nós nos pronunciássemos a partir dos critérios, dos assuntos e do calendário mais favorável ao Governo", criticou.
O secretário-geral do PCP sustentou que o primeiro-ministro "não tinha ideia sequer" de apresentar uma moção de confiança quando fez a declaração ao país no sábado, considerando que, "o que lhe sobrou nos truques de linguagem, faltou-lhe na coragem e na transparência".
"Mas bastou esse aceno para que muitos tivessem escorregado na manobra e de imediato se enrolassem em taticismos. Perante o truque, ou se cedia ou se enfrentava, e a resposta do PCP foi rápida e foi clara: não andamos a brincar à política. Brincar à política é brincar com a vida das pessoas", disse.
Paulo Raimundo salientou que a moção de censura que vai hoje a votos visa acabar com uma "política que acentua a exploração, as injustiças e as desigualdades", submetida "às imposições da União Europeia", e que "prossegue e acentua os baixos salários e as pensões", "aprofunda as dificuldades no acesso à saúde", habitação ou educação.
Para o secretário-geral do PCP, "hoje é o dia para travar este caminho de desastre e fazê-lo só depende da decisão dos deputados que aqui hoje estão sentados".
"A moção de censura do PCP é uma oportunidade para travar agora a política em curso e para credibilizar a vida política nacional. Inviabilizar esta moção é prolongar e acentuar essa mesma crise essa mesma instabilidade política", afirmou, antes de se dirigir a Luís Montenegro para lhe dizer que "o seu Governo está derrotado".
"O que falta saber é se há hoje responsabilidade e vontade de confirmar esse inevitável desfecho ou se há quem opte por salvar o Governo. (...) Quem optar por não votar favoravelmente a moção de censura, terá de responder por isso e ficará associado ao mais certo desfecho de toda esta situação", avisou.
Dirigindo-se a quem considera que "o povo não quer eleições", Paulo Raimundo contrapôs que "o que o povo não quer mesmo é viver cada dia com mais dificuldades".
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