Marcada para sair do Largo do Martim Moniz às 14h30, era já perto das 15h30 quando o desfile do 1.º de Maio, organizado pela CGTP, arrancou.
Em passo lento, trabalhadores, reformados e jovens, empunhando tarjas, bandeiras e cartazes gritavam a uma só voz palavras de ordem como "É justo e necessário o aumento do salário" e "Reconhecimento não paga renda, salário sim".
O tema da habitação foi, aliás, um dos que mais sobressaíram na manifestação deste ano, dando mote a centenas de mensagens e relatos de trabalhadores e reformados com dificuldade em fazer face ao aumento de preços das casas.
Foi este o motivo que trouxe Inês Castro, de 23 anos, pela primeira vez à marcha rumo à Alameda Dom Afonso Henriques, que, tal como em anos anteriores, estava pintada de vermelho não só pelas bandeiras da CGTP, mas pelos muitos cravos nas mãos ou ao peito dos manifestantes em alusão ao 25 de abril.
"Há um problema que é a especulação imobiliária, uma causa próxima dos jovens, e ninguém dá soluções", disse à agência Lusa a jovem trabalhadora-estudante.
"Temos que lutar por um futuro melhor e para conseguir ficar em Portugal, porque os jovens não querem emigrar", acrescentou.
Inês considera ter "sorte" viver numa residência universitária, mas tem vários amigos que estão a tentar comprar casa mas não conseguem por os preços estarem "completamente inflacionados".
"É impossível comprar casa no centro das cidades, as pessoas têm que ir para a periferia", lamentou.
Mais acima, Maria Teresa, agora reformada, contou que pelo 51.º ano decidiu sair à rua no 1.º de Maio por considerar ser "cada vez mais necessário". Os motivos? O aumento do custo de vida, nomeadamente da habitação, e os salários não acompanharem a tendência.
Desde 1974, data a partir da qual foi possível comemorar o Dia do Trabalhador em Portugal, após a Revolução de Abril, que Maria Teresa participa nas manifestações dividindo-se entre Lisboa e Évora, a sua cidade natal.
Hoje, marcha para lutar por melhores condições para os jovens. "Eu já passei por todos esses problemas, nomeadamente o da habitação. Mas neste momento os jovens não têm essa possibilidade. Como é possível viver com o ordenado mínimo? É impossível", referiu.
Durante mais de uma hora e meia, palavras de ordem como "A Luta continua. Maio está na rua" e "Fim à precariedade" ecoaram vezes sem conta no trajeto da manifestação que, comparativamente ao ano anterior, contou com menos pessoas, como apontaram vários participantes. "Devem ter aproveitado o fim de semana prolongado para ir para o Algarve", ouvia-se na rua.
Mas muitas famílias decidiram juntar-se à luta, tentando passar o exemplo aos filhos. Foi o caso de Marlene e Didier, de 32 e 36 anos, respetivamente, que desfilavam com o filho de 22 meses.
"Nós costumamos vir todos os anos porque achamos que o 1.º de Maio é um dia de luta, e os problemas continuam presentes ano após ano", contou o engenheiro de robótica.
Os baixos salários e as dificuldades em conseguir chegar ao final do mês com alguma folga orçamental, com o atual valor das rendas e da prestação da casa, também foram apontados pelo casal como o atual maior desafio.
"O aumento das taxas Euribor duplicou o valor da nossa prestação", revelou Marlene, atualmente desempregada.
O desfile terminou por volta das 17:00, hora em que o secretário-geral da CGTP, Tiago Oliveira, discursou nos jardins da Fonte Luminosa e reivindicou um aumento salarial de 15% para todos os trabalhadores.
O 1.º de Maio, Dia Internacional do Trabalhador, teve origem nos acontecimentos de Chicago de há 139 anos, quando se realizou uma jornada de luta pela redução do horário de trabalho para as oito horas, que foi reprimida com violência pelas autoridades dos Estados Unidos que mataram dezenas de trabalhadores e condenaram à forca quatro dirigentes sindicais.
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