O jovem português detido em maio de 2024 pela Polícia Judiciária (PJ), na altura com 17 anos, por suspeitas de ter ordenado vários massacres em escolas no Brasil através de um grupo que criou na plataforma Discord, foi agora acusado de centenas de crimes pelo Ministério Público (MP), incluindo instigação de homicídio qualificado, morte e maus tratos de animal de companhia e pornografia de menores.
Em comunicado, a Procuradoria da República da Comarca de Lisboa indicou que a investigação foi "concluída", tendo o MP "deduzido acusação" contra o arguido, que foi detido com a colaboração da Polícia Federal do Brasil.
"O arguido criou um grupo online para o qual recrutou membros com gostos semelhantes pelo culto da violência, com o propósito de os levar a praticar crimes, entre os quais, homicídio, ofensas à integridade física, pornografia de menores e maus tratos de animais de companhia", indicou a nota.
O jovem, que se encontra em prisão preventiva há um ano, foi acusado "na modalidade de instigação, em concurso efetivo de um crime de homicídio qualificado, na forma consumada, com recurso a arma, seis crimes de homicídio qualificado com recurso a arma, na forma tentada, e três crimes de morte e maus tratos de animal de companhia, agravados".
Segundo a PGR, foi ainda acusado "a título de autoria material, em concurso efetivo de um crime de instigação pública a um crime, um crime de apologia pública de um crime, um crime de associação criminosa, 224 crimes de pornografia de menores, dos quais 223 agravados, quatro crimes de coação, agravados, um crime de discriminação e incitamento ao ódio e à violência e um crime de incitamento ou ajuda ao suicídio, agravado".
Num destes ataques, fez com que um rapaz de 15 anos invadisse uma escola em Sapopemba, São Paulo, e assassinasse a tiro uma jovem de 17 anos. O crime ocorreu em outubro de 2023 e provocou ainda outros três feridos.
Tanto o suspeito como os seus seguidores partilhavam o fascínio pelo fenómeno do 'mass shooting' – tiroteios indiscriminados em ambiente escolar.
Segundo a PJ, o suspeito criou e geria um grupo na plataforma Discord, "já devidamente identificado, onde se agruparam diferentes pessoas apologistas dos mesmos ideais e que pretendiam cometer atos semelhantes aos idealizados e propagados por aquele".
"Através de um ideário particularmente violento e extremista, o jovem prestava conselhos quanto ao 'modus operandi' e indumentária a envergar pelos demais intervenientes aquando da preparação e prática dos crimes", lia-se em comunicado.
Entre os "comportamentos extremistas" que promovia estão a "automutilação grave de jovens, mutilação e morte de animais, difusão de propaganda extremista nazi, instigação e prática da 'missão' de cometer massacres em escolas (filmados e transmitidos através do telemóvel) e, ainda, partilha e venda de pornografia infantil".
Este tipo de condutas foram partilhadas no grupo, incluindo transmissões ao vivo de agressões contra animais que levam à sua mutilação e morte, jovens a beber detergente e a automutilarem-se com objetos cortantes.
Segundo o diretor nacional da Polícia Judiciária (PJ), Luís Neves, a detenção, terá evitado o assassinato de um mendigo, no Brasil, que seria transmitido online mediante pagamento.
"Um dos crimes que estava a ser programado no Brasil era o cometimento de um homicídio com laivos de sofrimento de um mendigo, em que essas imagens iam ser emitidas num ambiente cibernético e em que cada assistente pagaria uma quantia", revelou o responsável em conferência de imprensa.
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