O fundador do Bloco de Esquerda (BE) Francisco Louçã anunciou - juntamente com Fernando Rosas e Luís Fazenda - a candidatura às Legislativas na semana passada, mais de uma década depois. Reconhecendo "toda a confiança" na liderança de Mariana Mortágua e no que esta "representa para Portugal e para o futuro da Esquerda" - e sublinhando o trabalho também feito anteriormente por Catarina Martins -, Louçã explicou que a situação atual "exigiu" o regresso de grandes reforços.
"Percebi que a situação mudou tanto e tão profundamente nos últimos meses que exigia o que nós não tínhamos pensado que fosse necessário, que era juntar toda a força e mostrar a confiança e vontade", explicou, na terça-feira, em entrevista à RTP2.
Apontando o panorama internacional, em que existem planos para uma "riviera em Gaza" que visa expulsar mais de dois milhões e meio de pessoas ou a discussão à volta da divisão do território ucraniano, Louçã teceu críticas à ação do Executivo: "Um Governo que precipita eleições por um jogo político mesquinho, por uma jogada estratégica de parecença do seu primeiro-ministro para ocultar um negócio que tinha instalado em sua casa", afirmou.
"Esta degradação política, esta vil política em que mergulham Portugal exigiu-nos - e foi assim que pensámos - que puséssemos o pé no chão e que fôssemos a luta que tem que ter toda a gente", acrescentou.
Questionado sobre se para esta decisão pesou a perda de influência do BE, dado que o Bloco elegeu cinco deputados nas últimas Legislativas, disse: "O Bloco foi derrotado pela maioria absoluta do Partido Socialista em 2022 e isso conduziu a um resultado em que os eleitores e eleitoras se podem perguntar se era o Bloco ou a maioria absoluta que tinha razão. A instabilidade total criada por essa maioria absoluta, o desinteresse por uma política de habitação que conduziu à crise social ou até o desinteresse pelo serviço de Saúde."
Louçã exemplificou ainda o clima de "instabilidade" o com o caso que envolveu o ex-CEO do Serviço Nacional de Saúde António Gandra d'Almeida, que realizou funções de tarefeiro enquanto era presidente do INEM. Sublinhando, no entanto, que o responsável tinha sido "nomeado por este Governo [de Luís Montenegro]", o bloquista criticou o Executivo liderado por António Costa: "Quem é que criou o sistema dos tarefeiros? Quem é que permitiu que houvesse médicos a ganhar o triplo dos colegas sem uma vinculação ao hospital? Quem é que desagregou o SNS? Foi a maioria absoluta."
O cabeça de lista do Bloco por Braga considerou que o partido foi "penalizado por uma crise artificial criada pelo Governo do Partido Socialista, que conduziu à maioria absoluta", mas que nas última eleições legislativas subiu, apesar dos cinco deputados. "Teve mais confiança. E agora terá muito mais", sublinhou.
Louçã foi ainda confrontado sobre a possibilidade de um possível entendimento com a Esquerda, mas defendeu que agora era tempo de escolher se se quer a Esquerda ou a Direita.
"Acho que a força de um partido - e vai ser a força do BE - é juntar gente de opiniões muito diferentes, mas que possa ir à luta por Portugal [...]. Acho que é preciso uma Esquerda que, neste momento, de tanta dificuldade, tanta gente com medo - há uma política zombie -, que diga: nós somos a paz. Somos a solidariedade. Queremos garantir salários, habitação. E para isso são precisas escolhas difíceis", afirmou, remetendo para o dia das eleições, que se realizam a 18 de maio.
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