Durante cerca de meia hora, num debate emitido pela SIC Notícias, só mesmo o pesar pela morte do Papa Francisco reuniu consenso entre o presidente do Chega, André Ventura, e a coordenadora do BE, Mariana Mortágua.
Ainda assim, depois de Ventura ter reconhecido que "não concordou em tudo" com o Papa, Mortágua atirou que "sempre teve a mesma opinião" sobre Francisco.
O debate seguiu para o tema da economia, com André Ventura a defender um aumento do salário mínimo nacional, tal como o BE, mas com a ajuda de um "fundo de apoio" criado pelo Estado para financiar essa subida.
"O que eu gostava era que a Mariana Mortágua explicasse como é que vai dizer às empresas que ou sobem o salário mínimo ou encerram, e já há agora, como é que quer subir o salário mínimo e ao mesmo tempo tem um programa de nacionalizações de 10 mil milhões de euros", questionou o líder do Chega, que classificou este programa proposto pelo BE como "uma irresponsabilidade" e "socialismo cego".
A coordenadora do BE acusou Ventura de propor um "imposto escondido" ao ser "o único político português que defende o ataque de Donald Trump [presidente dos Estados Unidos da América] às empresas portuguesas, com tarifas", política protecionista que o líder do Chega defende.
Insistindo para que Ventura explicasse qual a sua proposta de tarifas para Portugal, Mortágua alertou que "uma tarifa de 20% sobre importações teria como efeito imediato um aumento de mais 20% no preço dos combustíveis, da gasolina, do gasóleo".
Ventura argumentou que países como a China, a Índia ou o Bangladesh estão a "produzir em massa e invadir os mercados da União Europeia", altura em que Mariana Mortágua colocou na mesa um conjunto de peças de lego ilustrativas das importações portuguesas.
A torre de 'lego' mais alta, de acordo com a bloquista, representava as importações portuguesas provenientes da União Europeia, 75%, seguidas, por ordem decrescente, da China, Brasil, Estados Unidos, Índia (que segundo Mortágua representa 1% das importações portuguesas), Paquistão e Bangladesh (0,2%).
"Se o doutor Ventura fizesse mais política com factos e menos com preconceitos, percebia um bocadinho mais sobre o que é que faz a economia portuguesa, e dizia às pessoas lá em casa que a sua proposta para tarifas é um imposto sobre os combustíveis, que são das maiores importações portuguesas", atirou.
Ventura insistiu na necessidade de "proteger os produtores europeus" e acusou Mortágua de estar a "brincar à política".
A habitação foi outro dos temas no qual os dois protagonistas não encontraram pontos de contacto, com a coordenadora do BE a insistir nos tetos máximos para as rendas e a acusar André Ventura de defender "o sistema" e "a elite", apoiando "o alojamento local descontrolado, os vistos 'gold' e os benefícios fiscais para estrangeiros ricos para comprarem casas em Portugal".
Interrogado sobre se concordava com a proposta de tetos às rendas, o presidente do Chega devolveu que "concordaria se estivéssemos em Cuba nos anos 50 ou na União Soviética nos anos 70" e atirou a Mortágua que "o muro caiu".
André Ventura acusou ainda o BE de defender a ocupação ilegal de casas. Mortágua defendeu-se, afirmando que quer "casas legais para toda a gente".
A imigração fechou o frente a frente e, sem surpresas, os dois líderes políticos discordaram em tudo. A coordenadora do BE defendeu que imigrantes residentes em Portugal há pelo menos quatro anos possam eleger e ser eleitas para a Assembleia da República, para as Assembleias Regionais e para as autarquias.
"Porque se os imigrantes pagam impostos que são suficientes para pagar 455 mil pensões em Portugal, então podem ter uma palavra a dizer. A minha política é para todos, é humanismo. A sua é ódio, é crueldade, é tirar às pessoas, é ganhar no egoísmo", criticou.
Ventura manifestou-se totalmente contra esta proposta, discordando que um imigrante que "não saiba falar português" possa votar e acusou o BE de apenas querer os votos destes cidadãos.
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