Pelas ruas de Mem Martins, Paulo Raimundo encontrou Sara Chaves, que assistia, curiosa, à passagem da ação de campanha da CDU, junto à porta de um prédio.
Depois de receber um jornal de campanha da CDU, a jovem de 34 anos contou ao secretário-geral do PCP que emigrou para Inglaterra há 11 anos, num caminho que acha que não terá retorno: "Não tenho razões para isso. Não voltei, nem vou voltar".
Na resposta, Paulo Raimundo disse-lhe que também ele tinha amigos que fizeram o mesmo, mas que lhe custava "um bocadinho ouvir isso".
"Aliás, custa mais para si sentir do que para mim ouvir", acrescentou.
Para Sara Chaves, o que mais a irrita na condição de emigrante, é ver que são dadas "mais regalias aos que vêm de fora do que aos portugueses que foram embora e querem voltar", admitindo que gostaria de regressar.
Depois de Paulo Raimundo lhe pedir "um exemplo", para perceber melhor a que se referia, a jovem apontou para o caso dos nómadas digitais que vinham para o país com incentivos "bem superiores aos portugueses".
"De que vale estar aqui?", perguntou, com o líder comunista a ironizar que talvez mais valeria à jovem mudar de nacionalidade "e depois voltar a Portugal com uma nacionalidade diferente".
"Foi o que eu disse", respondeu Sara Chaves.
Na despedida, Paulo Raimundo pediu-lhe apenas um compromisso.
"A gente não pode desistir do nosso país. Eu percebo, mas se a gente desistir do nosso país é o fim", afirmou o secretário-geral do PCP, com a jovem a dizer, com pouca confiança, que ia tentar.
No final de uma arruada em que ouviu palavras de força e ainda deu uns pezinhos de dança junto a uma cabeleireira ao som da gaita de foles que animava a caravana, Paulo Raimundo, no discurso, voltou àquela interação com a jovem emigrante.
Abordando os jovens que saem à procura de uma vida melhor, o líder comunista defendeu que se tem de acabar com esse fenómeno.
"Nós precisamos que os jovens que cá nasçam, cá cresçam, cá vivam, cá estudem e cá trabalhem com toda a sua força, com toda a sua garra, com toda a sua energia, com a sua criatividade e com o seu conhecimento", disse, considerando que, para isso, é preciso assegurar estabilidade laboral e melhores salários, acesso à habitação e uma rede pública de creches, entre outras propostas.
"Eu queria dizer, em nome desta coligação, que nós não desistimos do país. O país tem futuro, precisa dos jovens, precisa daqueles que cá trabalham, precisa daqueles que trabalharam uma vida inteira para responder a esse grande signo que temos, que é construir um Portugal melhor", sublinhou.
Além de falar dos jovens, Paulo Raimundo falou ainda dos reformados e da necessidade de um aumento extraordinário das pensões, aproveitando o momento para atirar uma farpa a Luís Montenegro, líder da AD, e ao seu jogo de voleibol na Praia de Espinho, durante a campanha.
"Essa gente [os reformados] tem a cara marcada pela vida. Não é pelas horas que passou na praia e que tem direito a passar na praia. Não é com as pernas marcadas por esta ou por aquela corrida, por este ou por aquele jogo de vólei na praia. Não é isso. É a cara e o corpo marcado pelo trabalho. Essa gente que trabalhou uma vida inteira tem direito à dignidade", disse.
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