Em declarações à Lusa em Washington, Estados Unidos (EUA), à margem das reuniões de primavera do FMI e do Banco Mundial, Joaquim Miranda Sarmento considerou "impossível" antecipar o resultado das negociações entre os EUA e a União Europeia (UE), embora frisando que as "tarifas prejudicam o crescimento económico e a eficiência económica, e prejudicam, sobretudo, os consumidores e aqueles que têm menores rendimentos nos países que impõem as tarifas".
"É isso que [nos mostra] a experiência de 2016/2017, quando os EUA aumentaram as tarifas. Naturalmente que a incerteza e um contexto internacional mais adverso torna o exercício económico e orçamental mais exigente, mas, em todo o caso, estamos confiantes que, por um lado, a Europa e os EUA conseguirão chegar a um acordo equilibrado que não prejudique nenhuma das economias, e, por outro, que o Governo manterá esta rota de equilíbrio orçamental e de redução da dívida pública", afirmou.
O momento atual é de acentuadas tensões comerciais depois dos anúncios do Presidente norte-americano, Donald Trump, de imposição de taxas de 25% para o aço, o alumínio e os automóveis europeus e de 20% em tarifas recíprocas ao bloco comunitário, estas últimas, entretanto, suspensas por 90 dias.
Questionado pela Lusa sobre o impacto dessas tarifas nas previsões de crescimento económico de Portugal, Joaquim Miranda Sarmento indicou que o cenário ainda está sob análise, mas reiterou estar "relativamente confiante de que a Europa e os EUA serão capazes de chegar a um entendimento que seja benéfico para ambas as economias".
"Ainda estamos a analisar, há aqui muitos fatores. Também depende da forma como a UE responder e do impacto que tiverem nas economias que estão mais expostas ao mercado americano, como é o caso da Alemanha ou da França, que depois têm efeitos indiretos na economia portuguesa. Veremos o que acontece nos próximos meses e qual o resultado final dessa negociação", reforçou.
O secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, avisou na quarta-feira o FMI e o Banco Mundial de que se estão a desviar da sua missão original e que a ajuda americana não será incondicional.
"A administração [do Presidente dos EUA, Donald] Trump está disposta a trabalhar com eles [FMI e Banco Mundial], desde que se mantenham fiéis às suas missões", disse, considerando que "estão a ficar aquém".
Segundo o responsável, as instituições "têm de se afastar das suas agendas dispersas e desfocadas, que têm impedido a sua capacidade de cumprir os seus mandatos fundamentais".
Em relação ao FMI, Scott Bessent defendeu que a organização "gasta uma quantidade desproporcionada de tempo e recursos em questões sociais, de alterações climáticas e de género".
Face aos alertas deixados pelo secretário do Tesouro, o ministro das Finanças português advogou ser importante que os EUA continuem a ter "um papel vital" no multilateralismo e que possa haver um "diálogo profícuo entre os EUA e a UE", alinhado com "decisões internacionais, que promovam, por um lado, um comércio mais aberto, mas também regulado", e por outro, o "desenvolvimento das zonas do globo que são hoje menos desenvolvidas".
Contudo, Joaquim Miranda Sarmento realçou haver aqui "uma oportunidade para a Europa" se afirmar cada vez mais num papel de liderança em termos do desenvolvimento internacional e do apoio, cooperação e de comércio internacional com outras regiões do globo.
"A Europa deve afirmar-se cada vez mais como um lugar de multilateralização nas relações com os outros blocos económicos", concluiu.
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