Apesar de as causas do apagão ainda não serem conhecidas, a larga maioria dos intervenientes da conferência 'Estratégia e Segurança Elétrica para Portugal', promovida pela Ordem dos Engenheiros (OE), em Lisboa, rejeitam que as energias renováveis sejam um problema para o sistema elétrico.
O engenheiro e antigo ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes, foi dos primeiros a falar. Para o responsável, um dos passos para mitigar fenómenos semelhantes ou pelo menos com grande impacto, passa por "desenvolver alguns projetos de bombagem".
"Sendo que no meu tempo a APA - Agência Portuguesa do Ambiente - os chumbava a todos", brincou.
Esta sugestão foi praticamente unânime entre os especialistas que trocaram ideias no primeiro debate técnico nacional sobre as condições do abastecimento elétrico existentes no país, a soberania energética, bem como as interdependências das redes europeias e a estratégia que Portugal deve seguir para garantir o fornecimento deste recurso em condições de segurança e suficiência, após o apagão elétrico que, em 28 de abril, afetou a Península Ibérica.
A produção de energia a partir de bombagem é possível em barragens equipadas com bombas hidroelétricas, que bombeiam a água de um reservatório inferior para um reservatório superior, possibilitando a sua reutilização para a produção de eletricidade em momentos em que a energia elétrica tem maior procura.
Outro das eventuais soluções passa pelo reforço das interligações da Península Ibérica à França, um tema que vai ser debatido esta quarta-feira pela ministra do Ambiente e Energia em Bruxelas, aumentar a capacidade de 'blackstart', centrais com arranque autónomo.
Recentemente, o Governo anunciou que duplicar a capacidade de 'blackstart', mantendo esta valência na Tapada do Outeiro e em Castelo de Bode, e ainda será ativado pela REN o serviço de 'blackstart' com as centrais hídricas de Baixo Sabor e Alqueva por um período de cinco anos.
Mas apesar de concordar que as renováveis são necessárias, o economista e antigo ministro da Indústria e Energia, Luís Mira Amaral, deixa o aviso: "Tenham juízo e não metam tudo elétrico", dando o exemplo dos fogões, sendo que durante o apagão apenas os alimentados a gás foram a "salvação" de muitas famílias.
O engenheiro Pedro Sampaio Nunes foi o mais crítico, tendo gerado uma discussão acesa na sala quando criticou o excesso de renováveis, apelidando-as mesmo de "doença" e um dos sintomas do apagão. Palavras refutadas, imediatamente, pelo presidente da associação que representa os produtores de renováveis em Portugal (APREN), Pedro Amaral Jorge, sentado ao lado de Pedro Sampaio Nunes.
Começando por considerar que os objetivos do Plano Nacional de Energia e Clima (PNEC) não vão ser atingidos, Pedro Sampaio Nunes defendeu que há "quem não perceba bem a diferença entre potência e energia, e como é que se gera a intermitência das energias".
"Essas energias produzem durante uma janela limitada de horas. Significa que para abastecermos um sistema com a energia que é necessária, temos que multiplicar a potência por cinco e na eólica por quatro".
Para o especialista, "isto induziu uma doença que é muito mais profunda que o apagão. O apagão é o primeiro sintoma, outros haverá, mas há um sintoma fundamental que diz que o mercado está inundado de energias renováveis".
A Rede Europeia de Gestores de Redes de Transporte de Eletricidade está a investigar as causas deste apagão, que classificou como excecional e grave.
Este painel de peritos terá de elaborar um primeiro relatório com o diagnóstico do incidente até 28 de outubro deste ano. Já o relatório final sobre a investigação do incidente deverá ser publicado, o mais tardar, até 30 de setembro de 2026.
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