"O Governo de Trump tem reforçado a retórica contra os cartéis mexicanos, considerando-os como 'organizações terroristas'. Esta classificação pode abrir caminho para operações militares dos Estados Unidos da América (EUA) dentro do território mexicano, sob o pretexto do combate ao narcotráfico", disse o economista mexicano, numa palestra por videoconferência com jornalistas internacionais, organizada pelo Fórum para o Jornalismo e Média, com sede em Viena, em que a agência Lusa participou.
As declarações de Carlos Heredia têm como pano de fundo a política migratória do segundo mandato de Trump, que tomou posse no passado dia 20 de janeiro e que prometeu expulsar "milhões e milhões" de imigrantes ilegais.
O especialista mexicano defendeu que a política migratória da nova administração Trump apenas vai acentuar problemas que se arrastam do passado, sendo incapaz de resolver os problemas do presente.
"A crise migratória, longe de poder vir a ser resolvida pelas novas medidas migratórias de Trump, vai continuar a ser usada como ferramenta política para expansão imperialista, como já fez no passado", disse Heredia.
O economista desenhou um quadro preocupante sobre as potenciais ações de Trump no seu segundo mandato, argumentando que o novo Governo norte-americano não só reforçará a estratégia histórica de procurar dominar a região da América Central pela força, como também ampliará uma política de militarização e criminalização da migração.
Para Heredia, a retórica de Trump durante a campanha eleitoral para as presidenciais de novembro passado e as primeiras medidas tomadas após a posse demonstram uma escalada na repressão contra migrantes, incluindo um plano agressivo de deportações em massa.
"O Governo Trump tem implementado mecanismos que evocam o conceito de 'Destino Manifesto', justificando uma intervenção mais ativa nos assuntos da região e consolidando o controlo norte-americano sobre territórios considerados estratégicos, como o Canal do Panamá", comentou Heredia.
Carlos Heredia recordou que Trump anunciou que o Exército dos EUA reforçará a presença nas fronteiras, tratando a migração como uma "ameaça à segurança nacional", numa abordagem ao problema que implica a reativação de políticas que permitem a expulsão sumária de requerentes de asilo, sem o devido apoio legal, sob a alegação de emergência sanitária e de segurança.
"Trump trata a migração como uma 'ameaça à segurança nacional', mas a verdade é que os Estados Unidos dependem economicamente da mão-de-obra migrante", lembrou Heredia, explicando que as deportações em massa anunciadas pelo Presidente norte-americano têm como alvo famílias que vivem nos Estados Unidos há décadas.
"Estamos a assistir à separação de pais e filhos, muitos dos quais são cidadãos norte-americanos por nascimento. O Governo Trump está a desmantelar vidas inteiras com sua agenda anti-imigração", prosseguiu o especialista.
Outro ponto central no pensamento de Heredia é o papel do México na nova dinâmica imposta pelos EUA.
Heredia considera que Trump está a pressionar o Governo mexicano para aceitar um papel ainda mais ativo como "terceiro país seguro" --- uma designação que transforma o México numa espécie de "sala de espera" para migrantes impedidos de entrar nos Estados Unidos.
"O Governo da Presidente Claudia Sheinbaum enfrenta um dilema. Por um lado, procura manter boas relações comerciais com Washington, especialmente em relação ao Acordo Estados Unidos-México-Canadá (USMCA). Por outro, a pressão para aceitar deportados em massa sem um plano de integração ou recursos financeiros adequados cria uma crise humanitária iminente", frisou o especialista em assuntos migratórios.
Guatemala, Honduras e El Salvador também estão sob pressão, recordou Heredia, lembrando como alguns regimes, como o do Presidente Nayib Bukele em El Salvador, demonstraram apoio às medidas de Trump, enquanto outros, como o do Presidente Gustavo Petro na Colômbia, protestaram contra as deportações indiscriminadas dos seus cidadãos.
"A incapacidade de formar uma frente unificada tem facilitado a implementação das políticas americanas", explicou o especialista.
Heredia defendeu ainda que a imposição de tarifas de 25% sobre importações do México e do Canadá, prevista para ter início já em fevereiro, pode agravar ainda mais a situação económica da região, atingindo cadeias de produção essenciais.
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