Castores selvagens regressam ao rio Tejo, no lado espanhol

Grupos de castores selvagens, uma espécie autóctone extinta há séculos, foram avistados no lado espanhol do rio Tejo por investigadores na zona de Guadalajara, perto de Madrid.

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© ANDY BUCHANAN/AFP via Getty Images

Lusa
02/02/2025 10:57 ‧ há 2 horas por Lusa

Mundo

Rio Tejo

Os investigadores Marco Ansón e Celia García publicaram um artigo científico na Galemys, a revista oficial da Sociedade Espanhola para a Conservação e Estudo dos Mamíferos (SECEM), com o título 'Um castor no Tejo', depois de terem encontrado exemplares desta espécie, em junho passado.

 

"Estávamos a fazer trabalho de campo, a investigar o guarda-rios no rio Tejo, e vi um castor a atravessar o rio e identifiquei-o imediatamente", disse o paleozoólogo Marco Ansón à agência de notícias EFE.

"Eu sabia que era o primeiro registo de um castor naquela bacia, porque até então tinham sido detetados castores nas bacias do Ebro, Douro e Guadalquivir, mas não no rio Tejo", explicou Marco Ansón, especializado em vertebrados extintos.

Depois de primeiro avistamento, na região de La Alcarria, Marco Ansón e Celia García procuraram outros exemplares na bacia espanhola do rio em conjunto com membros do Centro de Estudos Animais, um grupo de profissionais de zoologia que trabalham de forma autónoma em projetos de investigação e divulgação.

Localizaram três grupos populacionais, embora não saibam o número exato.

"Os castores são animais monogâmicos. Formam pares biparentais. As crias ficam no núcleo familiar até serem mais velhas", explicou o investigador, que acrescentou que até à data não sabem se os grupos são pares ou se têm crias de vários anos.

"Não conseguimos ver todos os exemplares", mas "são vários porque vemos diferenças de tamanho a nível individual", disse.

Pelo tamanho da espécie e pelas informações recolhidas através dos habitantes locais com quem falaram, acreditam que podem estar a viver na zona há três anos.

Apesar de estarem extintos há séculos, há indícios da existência de castores na região na época romana e visigótica, e sabe-se que a espécie autóctone terá sido extinta devido ao consumo humano.

"Fazia parte dos ecossistemas fluviais ibéricos. No resto da Europa houve um declínio muito grande da espécie e durante os últimos três ou quatro séculos sofreu uma regressão e começou a recuperar em meados do século XX devido a medidas de conservação", indicou o investigador.

A sua reintrodução em Espanha remonta a 2003 na bacia do Ebro, mas de "forma descontrolada e sem autorização", porque alguém decidiu retirar exemplares da Europa Central, possivelmente da Alemanha, e trazê-los para Espanha e reintroduzi-los "sem autorização, nem plano de conservação".

Esta opção foi arriscada, porque não se sabe "se estes exemplares estavam saudáveis ou se podem transmitir alguma doença", explicou Marco Ansón.

O castor é um animal "feito para viver nestes ambientes aquáticos e quem o introduziu sabia perfeitamente que era um sítio perfeito para viver. E certamente que os animais que levaram eram selvagens", disse.

Pela sua natureza, "é uma espécie que traz biodiversidade aos habitats em que vive, dinamização e interação entre diferentes espécies e, nesse sentido, não é problemática", pelo que acabou por ser bem sucedida.

Após a reintrodução no Ebro, o animal tem vindo a colonizar outros rios e afluentes em Espanha, sempre com intervenção humana.

"Não é uma espécie que crie problemas se não for perseguida. Começou a espalhar-se a partir do Ebro porque alguém decidiu tirá-los de lá e transferi-los para outros rios, como o Guadalquivir, o Douro e agora o Tejo. Os castores não chegaram a estas bacias por si próprios", afirma o especialista.

Para Marco Ansón, a presença deste animal pode ser positiva para o ecossistema fluvial, degradado pela introdução de espécies exóticas invasoras como o lagostim americano ou o lagostim telúrico.

Atualmente, prosseguem as suas investigações para conhecer melhor a etologia e a ecologia desta espécie no leito do Tejo e, na sequência da publicação do artigo, contactaram técnicos da Junta de Castilla-La Mancha para coordenar a informação recolhida com o estudo.

O delegado de Desenvolvimento Sustentável da Junta de Guadalajara sublinhou que os agentes ambientais já estão a trabalhar na zona, onde também tiveram os seus avistamentos "e estão a vigiá-los para o caso de também causarem danos, o que não é o caso".

Leia Também: Movimentação de animais para Espanha permitida apesar da língua azul

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