A semana já prometia ser decisiva quando, um dia após a libertação de reféns, o Hamas ameaçou que o cessar-fogo podia estar "em risco de colapsar". A troca de farpas começou no sábado, quando Telavive ficou "em choque" com o estado em que três reféns foram libertados. Com um aspeto subnutrido, três reféns - dois dos quais com ligação a Portugal - foram libertados. Israel prometeu não deixar de dar uma resposta, perante a situação.
No domingo, o grupo islamita acusou Israel de "procrastinação" em relação ao início das negociações para a segunda fase do acordo entre os dois lados, que já devia ter começado. A 'resposta' de Israel começou surgir ontem, quando o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu garantiu: "Se o Hamas não libertar reféns até ao meio-dia de sábado, o cessar-fogo terminará."
A declaração foi feita depois de uma reunião de mais de quatro horas com o gabinete de segurança, e a decisão foi aprovada "por unanimidade". Caso o grupo islamita não liberte os reféns, Netanyahu garantiu que as Forças de Defesa de Israel voltaram a "combater até que o Hamas seja finalmente derrotado". Já hoje, a imprensa internacional dá conta de que estão a acontecer detenções na Cisjordânia. Já ontem, a presença das mesmas forças tinha sido reforçada na Faixa de Gaza, segundo o próprio anunciou.
#صور | قوات الاحتلال تحتجز مجموعة من الفلسطينيين وتنكل بهم، خلال اقتحامها بلدة عبوين شرق مدينة رام الله. pic.twitter.com/f5PdIO8n06
— المركز الفلسطيني للإعلام (@PalinfoAr) February 12, 2025
"Todos expressamos indignação com a situação chocante dos nossos três reféns que foram libertados no último sábado", reforçou Netanyahu, acrescentando que "todos" acolheram a "demanda do presidente Trump para a libertação dos reféns israelitas até ao meio dia de sábado".
O que diz o Hamas?
O Hamas não demorou muito tempo a responder, e, citado pela agência espanhola Efe, um porta-voz apontou que "Netanyahu devia cumprir o acordo palavra por palavra". "Isto garantirá que tudo avance suavemente e sem atrasos, e levará à libertação de prisioneiros de ambos os lados", acrescentou.
O porta-voz, Mahmud Mardawi, apontou que o que estava acordado em termos de ajuda humanitária escasseava, já que apenas 8.500 dos 12.000 camiões planeados entraram em Gaza, e também o combustível disponibilizado - necessário ao funcionamento de infraestruturas essenciais - não estava a ser o combinado. Segundo o porta-voz, penas entraram no enclave 15 camiões de combustível por dia, em vez de 50.
Denunciou ainda que nenhuma unidade de habitação móvel chegou a Gaza, quando eram esperadas 60 mil, e que apenas 20 mil tendas entraram no enclave, apesar do acordo de 200 mil para a Faixa de Gaza, onde mais de 70% das estruturas foram danificadas ou destruídas, segundo a ONU.
Depois de anunciar o possível atraso da troca de reféns no sábado, o Hamas disse logo a seguir que "a porta permaneceria aberta" desde que Israel cumprisse os prazos e requisitos acordados.
Note-se ainda que esta é uma altura em Israel conta com o aparente apoio ilimitado dos Estados Unidos, já que o presidente, Donald Trump, se reuniu com Netanyahu na semana passada e apresentou um plano para Gaza, declarando que os Estados Unidos iam "apoderar-se" da Faixa de Gaza e "livrar-se dos edifícios destruídos", com o objetivo de desenvolver economicamente o território, afirmações que foram amplamente condenadas em todo o mundo.
Trump defendeu que os palestinianos iriam para um sítio "melhor" e já ontem apontou que estes não teriam direito ao retorno. "Terão alojamentos melhores", apontou, depois de ter vindo a defender que queria construir "um grande terreno imobiliário".
O que diz a comunidade internacional?
O receio de elevar a tensão já fez a comunidade internacional manifestar-se, com o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) a contactar o primeiro-ministro do Qatar, Mohammed Al Thani, para tentar salvar o cessar-fogo em Gaza, após Israel ameaçar retomar "combates intensos".
O porta-voz adjunto de Guterres, Farhan Haq, observou que o secretário-geral está a tentar dar "todo o apoio diplomático" à situação, considerando "o acordo de cessar-fogo essencial", uma vez que levou "tanto alívio a uma população que sofreu tanto, especialmente em Gaza".
Também cerca de trinta relatores e especialistas em direitos humanos da ONU rejeitaram na terça-feira, numa declaração conjunta, a ideia de os EUA assumirem o controlo de Gaza, alertando que "significaria um regresso aos anos sombrios da conquista colonial".
Em Portugal, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, mostrou-se confiante de que será possível manter o cessar-fogo em vigor, defendendo que "o Hamas não pode ser parte da solução" na Faixa de Gaza.
"Por um lado, é evidente que para Israel e para o bem de Israel é muito importante manter o curso da libertação de reféns", disse o ministro, numa entrevista à SIC, acrescentando: "Depois, sinceramente, não vejo que o Hamas tenha interesse em reabrir a violência", apontou.
O ministro dos Negócios Estrangeiros disse não ter "dúvidas" de que a Autoridade Palestiniana está a preparar-se para assumir o controlo da Faixa de Gaza no futuro, mas vai precisar de "ajuda" para ter a "capacidade institucional", sobretudo "no plano da segurança", onde necessitará de "ajuda externa".
"Mas há uma coisa que é evidente: o Hamas não pode ser parte da solução. Isto é uma posição clara do Governo português. O Hamas é uma organização terrorista capaz de coisas terríveis", frisou Paulo Rangel.
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