"A Ucrânia nunca será membro da UE se depender de nós, porque isso arruinaria a economia nacional", disse Viktor Orbán, no tradicional discurso do Estado da Nação, que durou mais de uma hora, perante os seus apoiantes, em Budapeste.
Segundo a agência noticiosa Efe, o governante salientou que "caberá aos húngaros decidir" se a Ucrânia "se tornará membro da UE", mas acrescentou que, pela vontade dos húngaros, isso nunca acontecerá.
"A adesão da Ucrânia destruiria os agricultores húngaros, e não só eles, mas toda a economia nacional húngara", reforçou, citado pela agência Associated Press.
É necessária a unanimidade dos líderes de todos os países da UE para aceitar novos membros.
Orbán previu ainda que a Ucrânia também não será membro da NATO e descreveu a guerra no país vizinho como "uma experiência falhada" das potências ocidentais para integrar o país na Aliança Atlântica.
Neste contexto, referiu, a Ucrânia, que tem sido atacada pelo exército russo há três anos, é uma "zona tampão" entre a Rússia e a NATO.
Em relação às conversações de paz entre o Presidente norte-americano, Donald Trump, e o Presidente russo, Vladimir Putin, sobre o conflito ucraniano, o primeiro-ministro húngaro voltou a ironizar sobre a UE por ter pedido que não fossem realizadas sem os países europeus e o próprio país atacado.
Referindo-se à vitória eleitoral das forças ultranacionalistas e de extrema-direita em vários países da União Europeia, disse que estão a avançar "na estrada principal da história".
O veterano primeiro-ministro, que detém um amplo poder no seu país desde 2010, prometeu ainda várias isenções fiscais para famílias com crianças este ano.
Vários meios de comunicação independentes, incluindo alguns dos mais lidos na Hungria, como o Hvg, 24.hu e Telex, noticiaram que os organizadores se recusaram a conceder-lhes a acreditação para o discurso de Orbán.
Orbán, considerado o parceiro mais próximo do Kremlin entre os líderes da UE, tem sido o principal impedimento do bloco europeu nos seus esforços para ajudar a Ucrânia na luta do país para se defender contra a invasão em grande escala da Rússia.
Apesar de criticar frequentemente e ameaçar vetar as sanções da UE contra a Rússia devido à sua agressão, acabou por votar sempre a favor.
A Hungria, membro da UE e da NATO, acolheu refugiados ucranianos que fugiam do conflito, mas também se opôs à ajuda financeira da UE a Kiev e promoveu uma maior cooperação económica e energética com Moscovo, apesar da guerra.
Orbán, aliado de Trump, aplaudiu as ações da administração norte-americana para desmantelar a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), alegando, sem provas, que a agência foi utilizada para financiar causas liberais na Hungria destinadas a derrubar o seu Governo.
O ultranacionalista prometeu um ajuste de contas com as organizações não-governamentais, os meios de comunicação social e os grupos de defesa dos direitos humanos que beneficiaram de financiamento da USAID, afirmando que seriam eliminados na Hungria e enfrentariam "consequências legais".
Por outro lado, reiterou as suas anteriores medidas repressivas contra a sociedade civil e as pessoas LGBTQ+ (lésbicas, gays, bissexuais, transgénero, queer e outros), afirmando que o seu Governo iria enviar um comissário aos Estados Unidos para recolher dados sobre as entidades húngaras que receberam financiamento da USAID.
Anunciou ainda recomendar que a Constituição -- aprovada unilateralmente pelo seu partido em 2011 -- fosse alterada de modo a dizer que uma pessoa é um homem ou uma mulher, e deu a entender que o seu executivo populista de direita iria tomar medidas para proibir o desfile anual do Orgulho LGBTQ+ em Budapeste este verão.
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