"Na minha opinião, eles são realmente corruptos (...). O que estão a fazer é ilegal", declarou o Presidente norte-americano, visando em particular os canais de televisão CNN e MSNBC.
Perante a procuradora-geral Pam Bondi, uma aliada próxima que tem como adjuntos os seus ex-advogados de defesa Todd Blanche e Emil Bove, Trump dedicou grande parte do discurso à comunicação social, repetindo por diversas vezes a palavra "ilegal" para caracterizar a sua ação.
"Literalmente [estes media] escrevem 97,6% de coisas más sobre mim, são o braço armado do Partido Democrata", acusou o Presidente de 78 anos que qualifica regularmente aos jornalistas como "inimigos do povo" e "fake news".
"Isto tem de acabar. É certamente ilegal(...).Está a influenciar juízes e a mudar a lei, não pode ser legal. Não me parece que seja legal. E estão a fazê-lo em total coordenação uns com os outros", insistiu.
Num Departamento que durante a administração anterior de Joe Biden investigou o caso de interferência eleitoral por Trump após a sua derrota em 2020, que culminou no assalto por apoiantes seus ao vizinho Capitólio em 2021, o Presidente caracterizou de "trampa" as acusações movidas contra si e repetiu que perdeu aquelas eleições devido a fraude eleitoral, apesar de todos os tribunais terem rejeitado tais alegações, prometendo "acabar com os abusos".
"Vamos expulsar os atores desonestos e as forças corruptas do nosso Estado. Vamos expor, expor, muito os seus crimes flagrantes e a sua grave má conduta, a níveis nunca vistos", disse Trump, que se tornou o primeiro Presidente na última década a fazer um discurso político no Departamento de Justiça.
"Vai ser incrível. E também vai ser incrível para as pessoas que forem capazes de assim proceder e fazer justiça", afirmou Trump no Grande Salão cerimonial da sede da Justiça norte-americana em Washington, DC.
Declarado culpado no estado de Nova Iorque por pagamentos ilegais a uma ex-atriz pornográfica, Trump é o primeiro condenado a chegar ao cargo de Presidente norte-americano, além de ter sido indiciado pela agência a que agora se dirigiu, tendo os processos caído com a sua eleição.
O protocolo do Departamento de Justiça dita que chefes de Estado em funções não devem ser investigados, pelo que a vitória eleitoral de 2024 significou também uma vitória judicial para Trump, que era acusado num segundo processo federal por desviar documentos confidenciais.
Este caso envolveu uma busca da agência federal de investigação criminal (FBI) em 2022 à sua propriedade de Mar-a-Lago em Palm Beach, Florida.
Ao definir a sua agenda, o Departamento de Justiça historicamente segue a orientação da Casa Branca, mas procura manter a sua independência nas investigações criminais individuais.
Trump incentivou investigações específicas durante o seu primeiro mandato e visou em particular Robert Mueller, o conselheiro especial designado para investigar as ligações entre a Rússia e a sua campanha de 2016.
Também teve relacionamentos difíceis com seus dois primeiros procuradores-gerais - Jeff Sessions foi demitido imediatamente após as eleições intercalares de 2018, e William Barr renunciou semanas depois de contestar publicamente as falsas alegações de Trump de fraude generalizada nas eleições de 2020.
No segundo mandato, Trump tem recorrido a aliados próximos, caso de Bondi, ex-procuradora-geral da Flórida que faz parte da equipa de defesa no primeiro procedimento de destituição, e Kash Patel, que nomeou para o FBI.
Na sua audiência de confirmação em janeiro perante o Senado, Bondi deixou no ar as falsas alegações de Trump de fraude eleitoral em massa em 2020, recusando-se a responder diretamente se este havia perdido para Biden.
Também repetiu a alegação de Trump de ter sido injustamente "visado" pelo Departamento de Justiça, apesar da força de provas que os procuradores afirmaram ter acumulado.
[Notícia atualizada às 22h22]
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