Cresce de dia para dia a insatisfação dos eleitores democratas com a inação da oposição perante a quantidade de ordens executivas e decisões polémicas que Trump tem anunciado desde que regressou à Casa Branca, em 20 de janeiro.
Os eleitores esperam mais ação do Partido Democrata, que se tem debatido internamente para encontrar uma voz unificadora, mas também para fazer passar a sua mensagem.
Mas, para António Cabral, o problema passa também por "encontrar soluções" para os problemas criados por "uma pessoa na Casa Branca e que, todos os dias, acorda de manhã e pensa que Governa sozinho", disse, referindo-se ao magnata republicano.
"O Partido Democrata está um pouco dividido e ainda não chegou ao ponto de ter só uma voz, de ter uma política em termos de resposta a Donald Trump e a tudo aquilo que ele tem feito nestes primeiros dois meses de Governo", afirmou o congressista luso-americano.
"Acho que é um problema de incerteza. Os democratas não sabem ainda como devem responder. E, de facto, os líderes do Partido Democrata na Câmara dos Representantes ou no Senado nunca foram reconhecidos como a voz nacional do partido. Portanto, para desempenhar esse papel, há que haver uma sintonia entre os democratas em geral. Acho que ainda não há essa sintonia", reconheceu.
Na prática, os democratas - que estão também em minoria no Congresso - têm-se manifestado contra algumas das ordens executivas de Trump, mas esses movimentos não têm sido suficientes para se sobreporem ao ritmo diário imposto pelo Presidente.
Para António Cabral, que nasceu na ilha do Pico e mudou-se para os Estados Unidos aos 14 anos, o segredo "é esperar", avaliando que o partido precisa de tempo para se reorganizar e encontrar figuras de relevo que possam tornar-se na voz dos democratas.
"O tempo vai alterar isso. Não é a primeira vez que o Partido Democrata, nem mesmo o Partido Republicano, passam por esta situação. Quando se perde eleições, como se perdeu em 2024, leva tempo a reorganizar, a ver a mensagem certa", defendeu, em entrevista à Lusa.
"Mas tem que haver uma coordenação das figuras do Partido Democrata para que se tenha uma resposta, mas também soluções", reforçou o congressista, que conta já com três décadas no serviço público como membro da Câmara dos Representantes de Massachusetts.
O Partido Democrata está agora numa corrida contra o tempo, com as próximas eleições intercalares agendadas para novembro do próximo ano, nas quais tentará recuperar o terreno perdido no Congresso em 2024, mas para as quais precisará de um novo modelo de comunicação e de líderes mobilizadores.
Questionado sobre que figuras democratas têm potencial para ocupar essa frente, o luso-americano apontou o governador da Califórnia, Gavin Newsom, ou a governadora de Michigan, Gretchen Whitmer.
Cabral assumiu estar confiante no futuro do partido.
"Acredito que as intercalares vão alterar todo este processo. O Partido Republicano atualmente só sabe dizer 'amém' com Trump. Não tem ideias próprias, só as ideias de Trump. Por isso, acho que o Partido Democrata tem aqui uma grande oportunidade se souber, de facto, apresentar respostas, soluções, ir ao encontro daquilo que o povo americano e a classe trabalhadora estão à procura", defendeu.
"Se isso acontecer, acho que temos uma grande oportunidade de conseguir a maioria na Câmara dos Representantes. E, ganhando a Câmara, tudo muda", disse o político de Massachusetts.
Uma sondagem divulgada em novembro, poucos dias após a vitória de Donald Trump, indicava que uma em cada cinco norte-americanos obtinha regularmente informação através de influenciadores digitais nas redes sociais.
De acordo com o Pew Research Center, 63% desses comunicadores eram homens e identificava-se como de direita.
António Cabral defendeu que o Partido Democrata devia aproveitar não só as plataformas digitais para expandir a sua mensagem, mas regressar também a meios mais tradicionais, como a rádio, muito "ouvida pela classe trabalhadora".
"Os eleitores que fizeram a diferença na eleição não ouvem 'podcasts', não veem notícias no Facebook ou no Instagram. Ouvem pequenas estações de rádio. E, nesses programas, há constantemente pessoal conservador da direita a bater na mesma tecla, a tentar convencer as pessoas. Nós, os democratas, não estamos presentes nesse meio", observou, apelando para um melhor aproveitamento de todos os canais de comunicação.
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