O vídeo - gravado por um telemóvel - contraria a versão de que os veículos do Crescente Vermelho e da Proteção Civil onde seguiam os 15 profissionais de saúde e socorristas não tinham as luzes de sinalização nem os faróis ligados quando foram atacadas por tropas israelitas.
Na versão inicial, as forças militares israelitas justificaram ter atirado contra as ambulâncias e carros de bombeiros porque estas estavam "a avançar suspeitamente" na direção de tropas colocadas num local próximo.
Conhecidas as imagens do vídeo, uma fonte militar oficial israelita que pediu o anonimato disse à agência Associated Press (AP) que essa versão está "errada".
Segundo a AP - que obteve o vídeo a partir de um funcionário das Nações Unidas, sob condição de anonimato -, as imagens mostram que as equipas do Crescente Vermelho estavam a conduzir devagar e não parecem estar a agir de forma suspeita ou ameaçadora.
Video showed that before 15 aid workers were killed by Israeli forces, they had their emergency signal lights on, contradicting Israel’s claims. https://t.co/B81Vfgk8cu
— The New York Times (@nytimes) April 5, 2025
Os veículos onde os profissionais seguiam - que tinham sido chamados a responder a alertas de feridos em Tel al-Sultan, um bairro da cidade de Rafah, na Faixa de Gaza - tinham os logótipos visíveis e as luzes de emergência ligadas.
Militares israelitas que conduzem as operações em Tel al-Sultan abriram fogo contra os veículos durante mais de cinco minutos, com breves pausas, ouvindo-se o autor do vídeo a rezar e a dizer: "Desculpa, mãe. Foi este o caminho que escolhi para ajudar pessoas, mãe".
Oito elementos do Crescente Vermelho, seis da proteção Civil e um das Nações Unidas morreram no tiroteio, registado antes de o sol nascer, a 23 de março.
Os corpos foram enterrados numa vala comum, num local que só foi identificado uma semana depois.
Os corpos foram desenterrados e estão a ser analisados.
O telemóvel com o vídeo foi encontrado no bolso de um dos paramédicos assassinados, disse o vice-presidente do Crescente Vermelho palestiniano, Marwan Jilani.
O presidente da mesma organização, Younes Al-Khatib, exigiu uma investigação independente ao caso. "Não confiamos em nenhuma das investigações do exército [israelita]", vincou.
O embaixador da Palestina junto das Nações Unidas já distribuiu o vídeo pelos elementos do Conselho de Segurança.
Munzer Abed, paramédico que sobreviveu ao ataque, confirmou à AP a veracidade do vídeo.
Outro paramédico, Assaad al-Nassasra, continua desaparecido e Abed disse que o viu ser levado, de olhos vendados, por militares israelitas.
Uma das ambulâncias que respondeu à chamada para Tel al-Sultan regressou em segurança, transportando pelo menos um ferido, referiu o Crescente Vermelho, dando conta de que os veículos seguintes foram todos atacados.
"De repente, atiraram diretamente contra nós", contou Abed, explicando que o ataque foi tão intenso que a ambulância parou.
Segundo o seu relato, soldados israelitas arrastaram-no para fora da ambulância, despiram-no até ficar só de roupa interior e espancaram-no e ataram-lhe as mãos atrás das costas, antes de o interrogarem sobre quantas pessoas seguiam na ambulância.
Abed testemunhou os ataques contra os veículos de emergência da Proteção Civil que chegaram a seguir.
Questionadas sobre o vídeo divulgado, as forças armadas israelitas disseram que o caso "está a ser analisado minuciosamente".
Israel tem acusado o grupo extremista palestiniano Hamas de esconder combatentes em ambulâncias e veículos de emergência, para justificar os ataques contra essas viaturas, mas o pessoal médico rejeita essa acusação.
Os ataques israelitas na Faixa de Gaza já causaram a morte a mais de 150 socorristas do Crescente Vermelho e da Proteção Civil e a um milhar de profissionais de saúde, a maioria dos quais quando estavam em serviço.
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