As propostas, que estão numa fase inicial de discussão, representariam uma das maiores reformas de sempre das Nações Unidas (ONU), que foi severamente afetada por cortes de financiamento do seu maior doador, os Estados Unidos, após a tomada de posse de Donald Trump como Presidente, em janeiro.
O documento, classificado como "estritamente confidencial" e ao qual a AP teve acesso, enquadra-se numa iniciativa de reforma conhecida como ONU80, lançada pelo secretário-geral da organização, António Guterres, em março.
A iniciativa surge no momento em que as Nações Unidas celebram o seu 80.º aniversário, e numa altura de sérias dúvidas sobre a capacidade da organização de trabalhar na resolução de conflitos, na ajuda alimentar aos mais vulneráveis ou no combate a doenças, entre outros aspetos.
"O memorando é o resultado preliminar de um exercício para gerar ideias e pensamentos de altos funcionários sobre como concretizar a visão do secretário-geral", disse o porta-voz da ONU, Stephane Dujarric, citado pela agência noticiosa norte-americana.
Dujarric indicou que esta é apenas uma das maneiras pelas quais a ONU está a trabalhar em reformas e que "este exercício foi criado para garantir que haja uma administração responsável do dinheiro dos contribuintes ao redor do mundo que financiam tudo o que a ONU faz através de contribuições dos Estados-membros".
O memorando em questão menciona "sobreposições significativas, ineficiências e custos crescentes no sistema da ONU" e um "sistema de desenvolvimento fragmentado", numa alusão ao trabalho de ajudar os países mais pobres ou afetados por conflitos a construir-se ou reconstruir-se, segundo a AP.
O documento, numa aparente referência aos cortes na ajuda dos Estados Unidos e de outros países ocidentais, salienta que "mudanças geopolíticas e reduções substanciais nos orçamentos de ajuda externa estão a desafiar a legitimidade e a eficácia da Organização".
Entre as principais propostas constam opções para uma fusão de diversas organizações --- possivelmente incluindo os órgãos da ONU para manutenção da paz, drogas e crime, assistência ao desenvolvimento, e o gabinete do conselheiro especial para a África --- numa única entidade de Paz e Segurança.
Outras opções poderiam incluir a deslocação das operações de paz e segurança da ONU "para mais perto do terreno", com uma gestão mais regional e descentralizada, e uma "reestruturação abrangente" das operações políticas e de manutenção da paz.
Outra ideia seria formar uma única entidade humanitária, por exemplo, criando uma organização "simplificada" que reunisse a coordenação de ajuda humanitária, a agência de refugiados e a agência de migração da ONU e que "alavancasse" a experiência do Programa Alimentar Mundial.
De uma forma mais ampla, as reformas propostas afetariam a abordagem da ONU às novas tecnologias, como a Inteligência Artificial, e alterariam a cultura interna da organização --- até à forma como as reuniões seriam estruturadas, as operações financiadas, os orçamentos definidos e as novas organizações criadas no futuro, destacou a AP, após a consulta do documento.
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