Estudos científicos anteriores mostraram que os chimpanzés batem com os pés nas raízes das árvores, criando sons que lhes permitem comunicar a longas distâncias.
A ideia de que o tamborilar destes macacos nas árvores nos poderia ajudar a compreender as origens da musicalidade nos humanos fascina os investigadores há muito tempo. Mas até agora tem sido difícil recolher dados úteis suficientes no meio da cacofonia da selva.
"Finalmente, conseguimos medir que os chimpanzés tamborilam ritmicamente, e não apenas aleatoriamente", explicou à agência France-Presse (AFP) Vesta Eleuteri, da Universidade de Viena, principal autora do estudo.
Os resultados deste estudo dão credibilidade à teoria de que os elementos de musicalidade nos humanos existiam antes da separação entre humanos e chimpanzés, há cerca de 6 milhões de anos.
Para este novo estudo, Eleuteri e os seus colegas, incluindo Catherine Hobaiter, da Universidade de St. Andrews, na Escócia, e Andrea Ravignani, da Universidade Sapienza, em Roma, compilaram mais de um século de dados observacionais.
Depois de filtrar com sucesso os sons indesejados, a equipa concentrou-se em 371 amostras de tambores de alta qualidade gravadas em 11 comunidades de chimpanzés de seis grupos que vivem em áreas de floresta tropical ou savana na África Oriental e Ocidental.
A sua análise demonstra que os chimpanzés tamborilam com uma forte intenção rítmica e que a frequência das suas batidas não é de forma alguma aleatória.
Aparecem também distinções entre subespécies: os chimpanzés que vivem na África Ocidental tendem a produzir batidas a intervalos mais regulares, enquanto os do Leste alternam entre intervalos longos e curtos com maior frequência.
No Ocidente, também tocam tambor com mais frequência, mantêm um ritmo mais alto e utilizam a percussão mais cedo nas suas vocalizações.
Os investigadores ainda não conseguiram determinar o que explica estas diferenças, mas sugerem que podem refletir divergências na dinâmica social.
O ritmo mais rápido e previsível dos chimpanzés ocidentais pode refletir uma maior coesão social, destacam os autores, referindo que são geralmente menos agressivos com indivíduos de fora do grupo.
Em contraste, o ritmo mais irregular dos chimpanzés orientais estaria associado a mais nuances, úteis para localizar companheiros num habitat mais disperso.
Agora, Hobaiter gostaria de continuar a estudar estes dados para determinar se existem variações intergeracionais nos ritmos dentro do mesmo grupo.
"A música não é apenas uma diferença entre diferentes estilos musicais, mas um estilo musical como o rock ou o jazz evolui ao longo do tempo", salientou.
"Teremos de encontrar uma forma de distinguir entre diferenças de grupo e diferenças intergeracionais para chegar à questão de saber se isto é aprendido socialmente ou não. Há um indivíduo que chega com um novo estilo e a geração seguinte adota-o?", questionou.
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