"Concorda que a província se torne um país soberano e deixe de ser uma província do Canadá?", é a questão proposta pelo Projeto de Prosperidade de Alberta (APP, na sigla em inglês), o grupo de cúpula das forças separatistas da província do oeste do país da América do Norte.
O advogado do APP, Jeff Rath, disse numa conferência de imprensa que a pergunta é muito mais clara e simples do que a que os apoiantes da independência do Quebeque escolheram para o referendo de 1995, que obteve quase 50% dos votos a favor.
O movimento separatista ecoa queixas económicas, principalmente as contribuições financeiras que Alberta faz a Otava para os programas federais, consideradas desproporcionadas, tal como a perceção de tratamento injusto na distribuição de recursos.
O grupo afirma que já conta com o apoio de 240.000 cidadãos e pretende atingir os 600.000 necessários para realizar uma consulta antes de apresentar a sua petição.
Com uma área de aproximadamente 661 mil quilómetros quadrados, tem uma população estimada em cerca de 4,7 milhões de habitantes (dados de 2024).
Uma sondagem divulgada na semana passada pela empresa de sondagens Leger, com uma margem de erro de 2,5%, revelou que 19% dos albertenses são a favor da independência e outros 17% estão inclinados nessa direção.
A APP é uma iniciativa privada, mas o governo de Alberta do Partido Conservador Unido (UCP) não se opõe à proposta e a líder do governo provincial, Danielle Smith, indicou que respeitará o resultado.
Smith reiterou que hoje acredita numa "Alberta forte e soberana dentro do Canadá" e que não atuará contra o referendo.
A governadora está até a facilitar um possível referendo, propondo a redução do número de assinaturas necessárias de 600.000 para 177.000, a par do alargamento do prazo para a obtenção das assinaturas necessárias.
A primeira-ministra de Alberta pertence à ala mais conservadora da UCP e está em desacordo com o governo federal canadiano relativamente às suas políticas ambientais.
Smith manifestou o seu repúdio pela vitória do Partido Liberal do primeiro-ministro canadiano Mark Carney nas eleições gerais de 28 de abril e justificou com a vitória dos liberais a frustração de uma parte da população de Alberta.
Nessas eleições, os conservadores obtiveram 34 dos 37 lugares que representam Alberta no parlamento de Otava.
A celebração da consulta tem a rejeição frontal dos indígenas de Alberta que consideram que os tratados que assinaram com a coroa britânica durante a colonização, e nos quais cederam os seus territórios, tornam impossível que a província se torne independente do Canadá.
A possibilidade de um referendo separatista surge num momento em que o governo de Carney procura reforçar a unidade nacional.
Durante uma conferência de imprensa em Washington na semana passada, após uma reunião com o Presidente norte-americano Donald Trump, o primeiro-ministro canadiano abordou o tema de forma ligeira.
"O Canadá é mais forte quando trabalhamos em conjunto. Acredito firmemente nisso", disse.
Trump tem sugerido repetidamente que o Canadá deveria tornar-se num estado norte-americano, e chegou mesmo a referir-se ao antecessor de Carney, Justin Trudeau, como "governador".
Analistas políticos consideram pouco provável a concretização de uma secessão, interpretando a iniciativa de Smith como uma forma de aumentar a pressão negocial sobre Otava, numa estratégia semelhante à adotada historicamente pelo movimento separatista do Quebeque.
Alberta é uma das dez províncias do Canadá, situada na região oeste do país, fazendo fronteira com a Colúmbia Britânica a oeste e com o Saskatchewan a leste.
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