"A escolha do santo padre, o Papa Leão XIV, convida-nos a um exame de consciência e a extirpar o mal pela raiz. A vida no Peru mudou porque todo o mundo pergunta onde fica o Peru, onde fica Chiclayo. Seremos visitados pelo mundo todo, como fomos nesta semana. E temos de estar à altura para acolher peregrinos, devotos e turistas que vêm visitar os lugares onde viveu e por onde caminhou o papa Leão XIV", indicou monsenhor Edinson Farfán, durante a missa campal em frente à Catedral de Santa Maria.
"Então, queridas autoridades, temos de pôr os olhos na Justiça porque, se isso não prevalece, ficaremos presos. Isso se faz caminhando juntos, propiciando espaços de encontro para o diálogo, para a escuta, para o silêncio, para o discernimento e para a boa tomada de decisões", continuou perante as autoridades locais, numa transmissão para todo o país.
Ao longo dos últimos anos, uma ampla lista de autoridades e líderes políticos peruanos foram presos e condenados por corrupção. No que se refere apenas a ex-Presidentes, são cinco nomes, sem contar a atual Presidente também investigada.
"É preciso de aprender a sair de si mesmo para pensar num projeto em comum. Convido todas as autoridades para nos sentarmos, a dialogarmos e criarmos consensos para gerir os melhores projetos para o bem da população, para o bem do nosso amado Peru", pediu monsenhor Farfán para logo em seguida fazer uma advertência.
"Vale para todas as autoridadesh é necessário serem transparentes, prestarem contas, serem honestos. A Justiça tem de prevalecer no nosso país. Falo como cidadão que sofre devido à corrupção, mal que está enquistado em muitas instituições. E todos temos o dever de reconhecermos que somos responsáveis uns pelos outros", apontou.
Uma multidão fora convocada à praça principal de Chiclayo para esperar pela missa de entronização do Papa. O horário marcado foi às 22h00 do Peru (04h00 da hoje em Lisboa), cinco horas antes da missa no Vaticano.
Em frente à Catedral, onde Robert Prevost foi bispo por oito anos, antes de se tornar Papa, houve apresentações de danças típicas desta região do Norte do Peru, canções e coros. Quatro ecrãs transmitiram as atuações a toda a praça, assim como depois a entronização no Vaticano.
Em redor da praça, foi montada uma feira com produtos típicos regionais, que passaram a ganhar o rosto do Papa estampado nas embalagens. As escadas da Catedral transformaram-se num altar de onde o bispo Edinson Farfán proferiu uma vigília de orações por volta da meia-noite (06h00 de hoje em Lisboa).
"Querido povo de Chiclayo, oremos pelo pontificado do santo padre e que sejam muitas as bênçãos para a Igreja universal, para a Igreja peruana e para a nossa amada diocese de Chiclayo. Oremos pelo nosso Papa", pediu.
A presidente da Câmara de Chiclayo, Janet Cubas, era uma das autoridades presentes na missa do bispo.
A entronização de Leão XIV marca o começo do papado, e também de uma nova fase na história de Chiclayo, até agora desconhecida do mundo.
"O bispo ressaltou muito a necessidade de consenso, precisamente o que nos falta no Peru. Devemos aprender isso tanto aqui em Chiclayo, quanto no Peru em geral. Começa, então, uma etapa de esperança e de tirar Chiclayo do atraso", disse Janet Cubas à agência Lusa.
A presidente da câmara municipal abordou o risco de corrupção tão presente cada vez que são necessárias obras públicas, como no caso desta região que precisará renovar a sua infraestrutura para suportar a afluência de turistas nacionais e estrangeiros.
"Esta etapa que se inicia deve ser purificada. Monsenhor falou de corrupção, mas também enfatizou a transparência e a prestação de contas que todas as autoridades, inclusive eu, estamos obrigadas a fazer. Chiclayo teve também a sua época na qual dois presidentes de câmaras foram presos por corrupção", acrescentou Janet Cubas.
Entre 2007 e 2019, dois ex-presidentes da Câmara de Chiclayo (Roberto Torres e David Cornejo), em três mandatos, foram denunciados e presos por corrupção, adiando ainda mais a resolução de problemas estruturais da cidade.
"Por isso, devemos sacudir-nos e sairmos deste atraso herdado devido à corrupção", diferenciou-se Cubas.
Em termos nacionais, apenas entre Presidentes, seis antigos titulares foram presos, condenados, acusados ou estão a ser investigados.
O ex-Presidente Alejandro Toledo (2001-2006) está em prisão preventiva. O ex-Presidente Ollanta Humala (2011-2016) foi condenado e o ex-Presidente Pedro Pablo Kuczynski (2016-2018) está próximo do julgamento.
O ex-Presidente Alan García (1985-1990 e 2006-2011) suicidou-se em 2019, quando a Polícia bateu à sua porta para o prender, e continua a ser investigado. O ex-Presidente Martín Vizcarra (2018-2020) também responde em processo.
A atual Presidente Dina Boluarte está a ser investigada por enriquecimento ilícito.
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