Também hoje o Supremo Tribunal israelita decidiu que a demissão do atual responsável foi ilegal.
"O Governo de Israel, sob a minha liderança, nomeará o chefe do Shin Bet", disse Benjamin Netanyahu em conferência de imprensa em Jerusalém, a propósito da saga política e jurídica criada pelo afastamento de Ronen Bar, num caso que envolve suspeitas de corrupção no gabinete do primeiro-ministro.
Esta declaração colide com uma ordem da procuradora-geral israelita, que proíbe Netanyahu de nomear um sucessor para Ronen Bar no Shin Bet, depois de o Supremo Tribunal ter decidido que a demissão foi "contrária à lei" e estava minada por um conflito de interesses do chefe do Governo.
"Portanto, [o Governo] deve abster-se de qualquer ação relacionada com a nomeação de um novo chefe do Shin Bet até que sejam elaboradas diretrizes legais", considerou Gali Baharav-Miara, que é também consultora jurídica do executivo, em comunicado.
O Supremo Tribunal israelita considerou que a demissão do diretor do Shin Bet, em 21 de março, foi tomada através de "um procedimento irregular e contrário à lei".
Nesse sentido, "existe um potencial tangível para um conflito de interesses entre o interesse pessoal do primeiro-ministro e o dever público", disse o presidente do Supremo Tribunal, Yitzhak Amit.
Ronen Bar anunciou em 28 de abril a intenção de renunciar ao cargo no dia 15 de junho. Dois dias depois, o Governo israelita reverteu a decisão de o despedir.
O líder dos serviços de informações internas tinha sido afastado em plena disputa com Benjamin Netanyahu, que é acusado de interferência política e autoritarismo neste processo, alvo de vários recursos da oposição, de organizações não-governamentais e da procuradora-geral, que alegou tratar-se de uma decisão ilegal que ameaçava gravemente a democracia.
De acordo com a decisão do Supremo, a possibilidade de ter ocorrido abuso de poder de Netanyahu na demissão, no sentido de influenciar o curso das investigações, "não é meramente especulativa".
Na conferência de imprensa, a primeira em cinco meses, o líder israelita defendeu-se das suspeitas relacionadas com o "Qatargate" e disse não ter recebido "um único shekel" [moeda israelita] do país.
"Isso é uma grande mentira. Querem insinuar que recebi alguma coisa. Até ouvi alguém dizer que recebi uma fortuna do Qatar. Não recebi um único shekel. Quem disse isso já foi processado, e quem disser isso novamente será processado", ameaçou.
Em março, Netanyahu testemunhou no caso "Qatargate", após a detenção dos assessores Eli Feldstein e Yonathan Urich por pagamentos recebidos de Doha para disseminar uma imagem favorável do país árabe na imprensa israelita.
O primeiro-ministro confirmou ainda que o Governo permitiu que fossem transferidos fundos do Qatar para o movimento islamita palestiniano Hamas na Faixa de Gaza, para dividir os islamitas e a Autoridade Nacional Palestiniana (ANP), que gere a Cisjordânia ocupada.
"A política que permitiu ao Qatar transferir dinheiro para Gaza foi aceite por unanimidade pelo gabinete de segurança", disse Netanyahu sobre a decisão de 2018, acrescentando: "Porque é que isto foi feito? Porque queríamos manter o Hamas e a ANP divididos".
Uma investigação do Shin Bet mostrou que o Qatar enviava cerca de 30 milhões de dólares (cerca de 26,5 milhões de euros) por mês para a Faixa de Gaza e que esses valores acabavam no braço armado do Hamas, com a aprovação dos governos de Netanyahu.
Em novembro de 2023, após o ataque dos islamitas no sul de Israel, que desencadeou a Guerra na Faixa de Gaza, o líder israelita afirmara que estas informações eram falsas.
No seguimento da ação sangrenta sem precedentes do Hamas em 07 de outubro de 2023 no sul do país, onde fez cerca de 1.200 mortos e mais de duas centenas de reféns, Netanyahu responsabilizou o diretor do Shin Bet pelo fracasso dos serviços.
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