O ex-ministro da Cultura Pedro Adão e Silva saiu em defesa do primeiro-ministro, Luís Montenegro, que tem sido fortemente criticado pelos partidos de Esquerda – incluindo o PS, de Adão e Silva – por ter confessado ter dúvidas de que o aumento no número de casos que se regista nas estatísticas "signifique o aumento da criminalidade tipificada para a violência doméstica".
Num artigo de opinião no jornal Público, o socialista admitiu que Montenegro foi "muito desajeitado", mas "tem razão". Justificou a sua opinião com o "efeito esquadra", explicando que o aumento de casos de violência doméstica pode dever-se, de facto, ao maior número de denúncias.
"Um efeito que sugere que, sempre que se abre uma nova esquadra de polícia, a criminalidade aumenta em razão do crescimento do reporte estatístico", escreveu Adão e Silva.
No entanto, o socialista não desvaloriza o problema, que classifica como "chaga social".
"E as estatísticas dão conta disso – só neste ano, foram violadas 38 mulheres por mês; não faltam relatos de assédio sexual que passaram incólumes, como os noticiados no mundo da música; até ao final de setembro, já houve 15 femicídios e mais de sete mil queixas por violência doméstica", referiu o ex-ministro.
Adão e Silva recorda também que, nas últimas décadas em Portugal, "fechou-se os olhos a diversas formas de abuso" contra as mulheres.
"Mas a verdade é que, mesmo que lentamente, as coisas avançaram. A violência doméstica passou a ser um crime público, o entendimento coletivo do que é violência é bem mais claro, há hoje mais respostas e estruturas de apoio e, fundamental, as mulheres têm hoje uma consciência distinta do seu lugar na sociedade", acrescentou.
O primeiro-ministro reagiu à polémica esta terça-feira e atirou farpas ao líder do PS, Pedro Nuno Santos, reiterando o que disse na segunda-feira.
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