A iniciativa conta com o apoio da maior associação de imigrantes do país, a Solidariedade Imigrante, que tem recolhido muitas queixas de imigrantes do Bangladesh, Nepal, Paquistão e Índia, aqueles "que o Estado português não quer aceitar", referiu à Lusa o presidente da associação.
"Nada nos cai dos céus, nada nos é dado, se nós não lutarmos para que as coisas se alterem", afirmou à Lusa Timóteo Macedo, comentando a concentração agendada para as 10:00.
O dirigente explicou que um grupo de imigrantes pediu à associação para realizar uma "manifestação de descontentamento", sendo a concentração de hoje a primeira de várias previstas contra a política migratória portuguesa.
"Reunimos há pouco tempo com representantes das várias comunidades que estão a ser muito perseguidas, até por algumas organizações da extrema-direita em Portugal. Falamos das comunidades asiáticas e também das comunidades islâmicas", disse Timóteo Macedo, denunciando o "aumento da islamofobia" no país.
O dirigente acusou a AIMA de estar a mostrar uma "grande inoperância", o que deixa a vida de milhares de imigrantes suspensa, e acusou esta estrutura de estatal de "não responder e indeferir mais de 50% das anteriores manifestações de interesse".
Além disso, os imigrantes identificados como irregulares noutros países europeus são colocados numa "lista de não admissão do espaço Schengen" e, por causa disso, não têm resposta da AIMA.
Essas pessoas optaram por vir para Portugal para pedir manifestações de interesse e caberia à AIMA identificar os casos e retirá-los da lista em causa, caso cumpram os requisitos legais em Portugal.
Mas "a AIMA não está a fazer absolutamente nada, queixa-se de não ter recursos humanos e diz que não tem muitas vezes competências para fazer isso", acusou Timóteo Macedo, que quer, com esta concentração, "alertar a sociedade civil e a comunicação social para a situação destes milhares e milhares de pessoas que têm a vida suspensa".
"Estão cá a trabalhar, fazem os seus descontos, passaram por um outro país e não fizeram nada de mal. Mas agora têm a vida parada", afirmou, salientando que só no Porto existem 800 casos deste tipo.
A abertura de canais prioritários aos cidadãos da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa ao contrário do que sucede com outras origens corresponde a uma estratégia de "dividir para reinar" os imigrantes e o movimento associativo.
Recentemente, foi assinado o acordo entre o estado e as entidades patronais para a contratação nos países de origem, denominada "Via Verde", mas Timóteo Macedo é muito crítico da medida, porque transformam "os trabalhadores em contratados, escravizados e acorrentados aos patrões".
"Os patrões não ficam responsáveis por nada, porque retiram dos salários tudo, o seguro de saúde, os custos da educação [da língua portuguesa] ou a habitação que disseram ao Governo ser responsáveis", acusou, frisando que vão "meter em contentores as pessoas, presas às empresas, sem direito a uma vida autónoma".
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