O antigo presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, desmentiu, na terça-feira, as declarações do primeiro-ministro, Luís Montenegro, que alegou que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) “está hoje melhor do que há um ano”, durante o debate de segunda-feira com o líder da Iniciativa Liberal (IL), Rui Rocha.
“Ouvi ontem, num debate, o primeiro-ministro a sustentar que o SNS está hoje melhor do que há um ano; e pensei que podia haver muita gente a acreditar em tal alegação. Embora os factos a desmintam: há hoje mais portugueses sem médico de família atribuído, mais urgências fechadas e mais vezes ao longo do ano, demissões a eito e sem fundamento técnico, mais unidades de saúde geridas por gestores nomeados por filiação partidária, e embora uma boa direção executiva tenha sido saneada, sucedendo-lhe-se, primeiro, o caos e, depois, a inércia”, escreveu Santos Silva, na rede social Facebook.
O socialista apontou, contudo, que esta “aparente verossimilhança do que disse Luís Montenegro” pode ser facilmente explicada, quando comparada com o escrutínio que o governo do Partido Socialista (PS) sofreu.
“A diferença é que a Ordem dos Médicos está calada, os sindicatos menos agressivos e menos capazes de chegar às notícias - e, sobretudo, porque desapareceram as campanhas diárias de fabricação mediática do caos nas televisões”, acusou.
Santos Silva foi mais longe, tendo indicado que, “quando a agenda política tende a favorecer os interesses privados (como é o caso das decisões fundamentais deste Governo em matéria de SNS), os interesses privados tendem a poupá-la”.
“O que continuo sem compreender é que, sendo isso tão evidente, continue a haver tanto sindicalista e político autoproclamado progressista e defensor do SNS que colabore, sendo leão temível e infatigável quando o PS está no governo e manso e sonolento cordeiro quando a vez calha à Direita”, acusou.
Recorde-se que, no frente a frente com Rui Rocha, o primeiro-ministro procurou enumerar os resultados do país em áreas como as finanças públicas, administração pública e saúde, setor este que considerou estar melhor do que no ano passado. Falou até de uma certa "montenegrização do pensamento político dos partidos da oposição", referindo como exemplos os temas da segurança, imigração, economia, política fiscal e carreiras da administração pública.
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