A divulgação da nova declaração de interesses de Luís Montenegro à Entidade para a Transparência, na qual o primeiro-ministro revelou sete novos clientes da Spinumviva, continua a dar que falar. Desta vez, com os partidos a trocar acusações sobre quem tornou a informação pública.
A informação, recorde-se, foi avançada pelo jornal Expresso na quarta-feira e, durante o debate com o secretário-geral do Partido Socialista, Pedro Nuno Santos, para as eleições legislativas, Luís Montenegro revelou que, após contactar a Entidade para a Transparência, ficou a saber que a Assembleia da República "terá sido eventualmente a origem da difusão".
"Contactei hoje a Entidade para a Transparência que me assegurou que não publicitou aquilo que foi a informação que eu enviei ontem e me informou que na Assembleia da República a informação que eu canalizei foi acessível e que, portanto, terá sido eventualmente essa a origem da difusão de uma informação que não tem a minha responsabilidade, até porque eu não tenho autorização para publicitar esses clientes que não estavam identificados", afirmou.
Já na quinta-feira, o deputado do Partido Social Democrata (PSD), Hugo Carneiro, adiantou que pediu ao Grupo de Trabalho do Registo de Interesses no Parlamento para pedir à Entidade para a Transparência os registos informáticos de quem acedeu aos dados sobre o primeiro-ministro.
Como membro do PSD no Grupo de Trabalho do Registo de Interesses no Parlamento foi ontem aprovado a meu pedido às 14.30h que o GT pedisse à EpT os registos informáticos de quem acedeu no Parlamento ao registo de interesses do PM entre 29 e 30 de abril.
— Hugo Carneiro (@hmscarneiro) May 1, 2025
Pouco tempo depois, o Observador avançou que o deputado socialista Pedro Delgado Alves, coordenador do Grupo de Trabalho, assumiu no Parlamento que teve acesso à informação sobre os clientes da empresa familiar de Montenegro.
"Na sequência da notificação e da consulta, troquei impressões com o Fabian Figueiredo, que também faz parte deste Grupo de Trabalho (e que também é notificado), porque me parecia (e estava correto) existirem dados novos além dos que eram públicos sobre a empresa", explicou, na quinta-feira ao Observador, frisando que o procedimento de acesso a este tipo de informação é "habitual".
Já a SIC Notícias, o socialista fez questão de esclarecer que o PS "não forneceu a informação para fora do Grupo de Trabalho", que tem como "função e missão consultar as declarações".
Na mesma linha, o porta-voz da candidatura do PS às Legislativas, Marcos Perestrello, confirmou que o PS "não divulgou essa informação" sobre os clientes da Spinumviva à comunicação social e acusou o PSD de estar a fazer uma "manobra de diversão para desviar a atenção do essencial".
Já Fabian Figueiredo, após ver o seu nome citado por Delgado Alves, afirmou que não foi ele quem divulgou a declaração do primeiro-ministro à comunicação social e defendeu que essa informação deveria estar disponível para consulta pública.
"O PSD quer saber se entreguei ao Expresso a declaração de interesses de Montenegro. Não fui eu", escreveu o dirigente bloquista na rede social X, acrescentando que "há mais de um ano que essa informação devia estar disponível para consulta do público e dos jornalistas".
O PSD quer saber se entreguei ao Expresso a declaração de interesses de Montenegro. Não fui eu. Mas convém não ignorar o essencial: há mais de um ano que essa informação devia estar disponível para consulta do público e dos jornalistas. A palavra transparência vem no dicionário.
— Fabian Figueiredo (@ffigueiredo14) May 1, 2025
Apesar das justificações dadas, Luís Montenegro afirmou, ao final da tarde de quinta-feira, que há indícios de que o PS "tem muito mais a ver" com a divulgação dos clientes da empresa Spinumviva e reiterou que não difundiu nem promoveu a difusão do documento.
"Mais uma vez, os factos aparecem distorcidos, manipulados, e fui até acusado pelo líder do PS de o ter feito, quando, afinal de contas, não tenho a certeza, mas parece que o Partido Socialista tem muito mais a ver com isso do que eu", afirmou.
O que está em causa?
O jornal Expresso noticiou, na tarde de quarta-feira, horas antes do debate com Pedro Nuno Santos, que o primeiro-ministro entregou uma nova declaração de interesses à Entidade para a Transparência, na qual revelou sete novos clientes da Spinumviva.
De acordo com o semanário, que cita várias fontes, a informação foi atualizada perto das 24h00 de segunda-feira. Além dos clientes já conhecidos da empresa Spinumviva - cinco na área de proteção de dados (Ferpinta, Rádio Popular, Solverde, CLIP e Lopes Barata) e a gasolineira de Braga - foram adicionadas sete outras empresas para as quais prestou serviços.
Já na quinta-feira, o Correio da Manhã revelou que clientes da empresa familiar de Montenegro "têm uma longa relação com o Estado português e faturaram mais de 100 milhões" desde a vitória da Aliança Democrática (AD) nas Legislativas de 2024.
Em declarações aos jornalistas, no Palácio de São Bento, o primeiro-ministro defendeu que não teve interferência nos contratos. "Os contratos que essas empresas têm com o Estado não dependem de mim, nunca dependeram de mim", afirmou.
Leia Também: Registo de clientes? "Fiquei a saber quando fui para o debate"