Final da Taça de 1995/96 prosseguiu para evitar tragédia ainda maior

A final da Taça de Portugal de futebol de 1995/96 ficou marcada pela morte de Rui Mendes, atingido por um very light disparado por um adepto do Benfica, e foi concluída por segurança, recordou um assessor de Jorge Sampaio.

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Lusa
24/04/2025 09:05 ‧ há 4 horas por Lusa

Desporto

Taça de Portugal

O trágico episódio de 18 de maio de 1996, no Estádio Nacional, em Oeiras, deixou o então Presidente da República, Jorge Sampaio, "incomodadíssimo", conta em declarações à agência Lusa Pedro Reis, então responsável pela preparação das deslocações do Chefe de Estado, essa incluída.

 

Rui Mendes, adepto do Sporting, foi atingido por um very light disparado pelo apoiante do Benfica Hugo Inácio, da bancada sul para a norte, ou seja, de um lado ao outro do recinto, "da direita para a esquerda, para quem, como eu, estava na Tribuna", lembrou.

A tradicional deslocação de um Presidente da República à final da prova 'rainha' do futebol nacional conferiu, no encontro decisivo da 56.ª edição, um papel de decisor em vez do habitual protagonismo da entrega da taça ao vencedor e do reconhecimento aos vencidos.

Pedro Reis diz ter sido avisado pelo ajudante de campo da Presidência da República, um militar do exército, que terá visto passar um "foguete".

Esse momento ocorreu pouco depois de o argentino Mauro Airez ter dado vantagem ao Benfica, logo aos nove minutos do encontro que o Benfica iria vencer por 3-1.

O "foguete" era, na verdade, um very light, uma arma, semelhante a uma pistola, que dispara um projétil de sinalização, que acabaria por vitimar Rui Mendes, aos 36 anos.

Apesar de o incidente ter aberto uma 'clareira' na repleta bancada 'verde e branca', a notícia da morte do adepto 'leonino' chegou primeiro à Tribuna Presidencial, onde o então primeiro-ministro, António Guterres, expressou imediatamente a vontade de sair e se deslocar ao Hospital São Francisco Xavier, em Lisboa, para onde tinha sido transportado Rui Mendes.

Aos 36 minutos do encontro, a RTP, que transmitia o encontro, dava conta da morte, enquanto os adeptos do Sporting gritavam: "assassinos, assassinos".

Foi durante o intervalo do jogo, quando o Benfica já vencia por 2-0, que ocorreu uma reunião de emergência sobre o desfecho do encontro, com os comandantes da polícia, o primeiro-ministro, o presidente da Federação Portuguesa de Futebol, Gilberto Madail, e os presidentes dos clubes, José Roquette e Manuel Damásio.

"Discutiu-se se o jogo continuaria ou terminaria ali, com uma punição ao Benfica e a vitória do Sporting, que era a hipótese mais defendida. O Presidente Jorge Sampaio estava incomodadíssimo e admitimos que qualquer decisão podia ser tomada, mas que devíamos ter em conta a posição da polícia. E entendeu-se que seria mais seguro concluir o jogo, não entregar o troféu, retirar imediatamente os adeptos do Benfica e atrasar, em meia hora ou 40 minutos, a saída dos adeptos do Sporting, para nem terem hipótese de se cruzarem", descreveu.

O assessor admite "ter sido mais ponderado deixar o jogo chegar ao fim", para transtorno do então Presidente da República.

Ainda no recinto, durante a segunda parte, Jorge Sampaio falou aos jornalistas, num "momento de consternação e de luto", justificando a decisão e apelando à calma dos espetadores.

"Pedimos a todos os espetadores, qualquer que seja a sua filiação clubística, para que o evento termine de uma forma digna, de uma forma calma, e que as pessoas possam sair daqui em segurança. A taça vai ser entregue numa cerimónia posterior e nós ficamos até ao fim porque pensamos que devemos ser o penhor do rigor, da calma e da segurança", referiu, então, Jorge Sampaio.

Já nesta declaração, notoriamente emocionado, o Chefe de Estado clamava por justiça.

"As investigações vão encetar-se, para apurar as causas do falecimento da pessoa em causa, e esperamos que a serenidade volte aos campos de futebol. O futebol é um momento de alegria e não pode ser um momento de tristeza. É preciso que os portugueses hoje assumam o recolhimento necessário e se partilhe a vitória com a derrota, com a serenidade e a paz que o país exige numa manifestação desportiva", vincou o então Presidente da República.

Quase 29 anos depois, Pedro Reis confirmou o estado de espírito de Jorge Sampaio, em contraste com que tinha visto antes de se deslocar para o recinto.

"O Presidente repetia que era a festa do futebol, que tinha visto todos os adeptos a festejarem durante a manhã e que se perdia assim uma vida, nestas circunstâncias, com um ato criminoso. Estava mesmo muito incomodado. Saímos do estádio e fomos para o hospital, onde o primeiro-ministro, que também levou algumas pessoas, contactou a viúva, combinando que, depois, passaria o telefone ao Presidente, que só me perguntava o que se diria, num momento destes: 'Um jovem vem para Lisboa, para uma festa e morre assim', lamentava", recordou o assessor.

A revolta de Jorge Sampaio, um apaixonado pelo golfe e pelo futebol, e também pelo "seu" Sporting, era percetível e, depois do telefonema, insistia: "isto não pode ficar assim, o futebol não é isto e este tipo de pessoas não podem continuar a ir ao futebol".

O Benfica conquistou essa Taça de Portugal, ao vencer o rival Sporting por 3-1, com um golo de Mauro Airez e dois de João Vieira Pinto, antes de Carlos Xavier reduzir para os 'leões', aos 83 minutos, quando já muitos adeptos 'verde e brancos' abandonavam as bancadas.

O troféu seria entregue uma semana mais tarde, num particular frente ao Vitória de Guimarães (1-0), no antigo Estádio da Luz, sem as habituais honras presidenciais.

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