"Com a aproximação da primavera e com o aumento do risco de propagação da febre catarral ovina (língua azul), a CNA reclama ao Governo uma estratégia clara, eficaz e atempada de prevenção e combate a esta doença que, em 2024, dizimou milhares de animais em Portugal, sobretudo ovinos", indicou, em comunicado.
A CNA lembrou que os produtores pecuários acumulam avultados prejuízos e defendeu que a resposta do Ministério da Agricultura foi "tardia e insuficiente".
Segundo a confederação, a medida de apoio ao restabelecimento do potencial produtivo, ao exigir prejuízos superiores a 30%, exclui um elevado número de produtores.
Para a CNA, esta situação "é inadmissível", tendo em conta que os agricultores já enfrentam dificuldades com os baixos preços pagos à produção e os elevados custos com a produção e sanidade animal.
Neste sentido, os agricultores reivindicam medidas para pôr fim a esta situação, atribuindo apoios para o restabelecimento do potencial produtivo a todos os agricultores afetados.
A confederação defendeu ainda que este apoio é insuficiente e pediu uma medida extraordinária que compense os produtores pelas perdas devido à morte de animais adultos e borregos, abortos, redução da fertilidade, diminuição da produção de leite e restrições de comercialização.
"A morte de animais pode também implicar reduções significativas nas ajudas da PAC [Política Agrícola Comum] a que os agricultores têm direito, pelo que o Ministério da Agricultura deve garantir que os produtores não são penalizados por eventuais incumprimentos que decorram da perda de efetivos devido à doença", apontou.
Os agricultores pedem também uma campanha de vacinação, com apoios à compra e administração de vacinas.
Em janeiro, o Ministério da Agricultura e Pescas anunciou um apoio de oito milhões de euros, através do Plano de Desenvolvimento Rural 2020 (PDR2020), aos produtores afetados pela língua azul e pelas tempestades Kirk e Dana em 2024.
O vírus da língua azul já matou mais de 37.000 ovinos e afetou 1.800 explorações, num total de 118.607 infetados, segundo dados da DGAV enviados à Lusa no início do mesmo mês.
Estes dados refletem apenas as notificações recebidas por esta direção-geral, pelo que os números podem ser ainda superiores.
O Governo financiou, pelo menos, 385.050 doses de vacina contra o serotipo três do vírus da língua azul, num montante que ultrapassa os 982.318 euros, sobretudo para os distritos de Portalegre, Évora, Beja e Castelo Branco.
Para financiar a vacinação, o Governo alocou um milhão de euros, no ano passado, às organizações de produtores.
No total, os custos da aquisição da vacina contra o serotipo três da língua azul foram pagos a 34 organizações.
Em dezembro de 2024, o parlamento aprovou um projeto de resolução do PS para uma campanha de vacinação contra a doença da língua azul.
No mesmo mês, foi detetado o serotipo oito do vírus da língua azul em bovinos no distrito de Portalegre.
Portugal continental foi afetado pelos serotipos três e quatro do vírus da língua azul desde outubro. Os Açores e a Madeira estão livres desta doença.
A vacinação dos ovinos reprodutores adultos e dos jovens destinados à reprodução, bem como dos bovinos, é obrigatória contra os serotipos um e quatro do vírus da língua azul.
A DGAV fornece a vacinação obrigatória às organizações de produtores.
A febre catarral ovina ou língua azul é uma doença viral, de notificação obrigatória, que afeta os ruminantes e não é transmissível a humanos.
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