No dia em que o presidente norte-americano, Donald Trump, e o primeiro-ministro israelita, Benjamim Netanyahu, se vão encontrar em Washington, a organização de defesa dos direitos humanos avisa que se a nova administração norte-americana quiser acabar com a cumplicidade relativa a esses crimes tem de suspender imediatamente as transferências de armas para Israel.
"Trump disse que as hostilidades em Gaza 'não eram uma guerra' dos EUA, mas a menos que deixe de dar apoio militar a Israel, Gaza será também uma guerra de Trump", alega o diretor da unidade de advocacia da HRW, Bruno Stagno, num comunicado hoje divulgado.
A ajuda militar dos EUA a Israel tem aumentado desde 07 de outubro de 2023, quando um ataque do grupo islamita Hamas a Israel deu início à guerra no enclave palestiniano, crescendo pelo menos 17,2 mil milhões de euros num ano, segundo um estudo da Universidade Brown, citado pela HRW.
Em março do ano passado, o jornal The Washington Post informou que os EUA aprovaram mais de 100 vendas militares a Israel desde outubro anterior, que incluíram "milhares de munições de precisão, bombas de pequeno diâmetro, destruidores de 'bunkers', armas ligeiras e outras formas de ajuda letal", recorda ainda a organização não-governamental (ONG).
No início de janeiro deste ano, a administração norte-americana em funções (do presidente democrata, Joe Biden) informou o Congresso sobre uma venda adicional planeada de 7,7 mil milhões de euros em armas a Israel.
Segundo o Ministério da Saúde de Gaza, as operações militares israelitas em Gaza resultaram na morte de pelo menos 47.000 palestinianos.
Além disso, refere a ONG, Israel obrigou à deslocação de quase toda a população de Gaza, usando a fome de civis como arma de guerra e privando-os de água, eletricidade, ajuda médica e outros bens essenciais à sobrevivência, além de danificar ou destruir as infraestruturas essenciais de Gaza e da maioria das suas populações.
A Human Rights Watch, a Amnistia Internacional e dezenas de relatos de meios de comunicação social norte-americanos e internacionais, incluindo a CNN, a NPR, o The New York Times, o The Washington Post e a AFP, identificaram armas norte-americanas a serem utilizadas em ataques israelitas que mataram e mutilaram dezenas de civis e trabalhadores humanitários.
"Apesar das provas esmagadoras do desrespeito do Governo israelita pelas leis da guerra, Biden não impediu os envios de armas dos EUA para Israel", critica a HRW.
Lembrando que a Comissão de Direito Internacional esclareceu, num relatório de 2001, que um Estado que auxilia significativamente outro Estado num ato internacionalmente ilícito também é responsável, desde que tenha conhecimento das circunstâncias, a organização humanitária defende que as autoridades do Governo de Biden "estavam bem cientes das crescentes provas de que as forças israelitas cometeram graves abusos em Gaza".
"Organizações humanitárias e de direitos humanos e especialistas independentes enviaram ampla documentação aos EUA", indica a HRW.
Além disso, o Tribunal Internacional de Justiça concluiu que as alegações apresentadas pela África do Sul no seu processo contra Israel ao abrigo da Convenção sobre o Genocídio de 1948 eram "plausíveis" e as medidas provisórias para salvaguardar os palestinianos alertaram a administração Biden para o risco de crimes contra a humanidade em Gaza.
Para a HRW, a administração Trump está a seguir o mesmo caminho de cumplicidade com violações graves do direito internacional.
"O Presidente Trump aprovou o lançamento de bombas [pesadas] de 2.000 libras às forças israelitas e pediu para 'limpar tudo em [Gaza]'", o que "equivale a uma escalada alarmante da limpeza étnica dos palestinianos em Gaza", alerta.
Por isso, as autoridades norte-americanas podem também ser consideradas criminalmente responsáveis por "ajudar e encorajar" crimes de guerra cometidos pelas forças israelitas, acrescenta a HRW.
O Governo israelita e o Hamas chegaram a um acordo de cessar-fogo em janeiro de 2025, mas os civis palestinianos em Gaza continuam a sofrer com uma terrível crise humanitária e danos extensos causados pelo bloqueio e ataque ilegais de Israel.
"Os EUA têm de suspender a assistência militar e a venda de armas a Israel enquanto as forças israelitas cometerem impunemente abusos generalizados e graves, equivalentes a crimes de guerra, contra civis palestinianos", frisa a organização.
Além disso, defende a HRW, Washington deve também contribuir para a reparação e reconstrução de Gaza, tendo em conta o fornecimento de armas para cometer os crimes de guerra.
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