"Tenho sido muito claro ao afirmar, que, apesar de todos os obstáculos e da pressão a que a agência está sujeita, o nosso objetivo é permanecer e cumprir a nossa missão até sermos impedidos de o fazer", disse Philippe Lazzarini, em entrevista à agência Associated Press (AP), durante uma visita a Beirute.
Na semana passada, Israel proibiu formalmente a UNRWA de operar no seu território. Como resultado, segundo indicou o responsável, a equipa internacional teve de deixar Jerusalém Oriental, uma vez que os seus vistos expiraram, mas em Gaza e na Cisjordânia não houve impacto imediato nas operações.
Mesmo em Jerusalém Oriental, disse, os cuidados de saúde e outros serviços prestados pela UNRWA "continuam, embora não necessariamente com o mesmo alcance que tinham antes".
Questionado sobre a sugestão de Donald Trump de reinstalar permanentemente os dos cerca de 2 milhões de palestinianos que estão em Gaza em países vizinhos, Lazzarini classificou-a de ""totalmente irrealista" e acrescentou: "Estamos a falar de deslocação forçada. A deslocação forçada é um crime, um crime internacional. É uma limpeza étnica".
Trump anunciou na terça-feira que Washington não vai retomar o financiamento da UNRWA - que já estava suspenso desde janeiro de 2024, quando a administração de Biden o suspendeu na sequência de acusações de Israel de que funcionários do organismo em Gaza participaram no ataque liderado pelo Hamas, em 07 de outubro de 2023, que desencadeou a guerra.
Israel alegou que 19 dos cerca de 13.000 funcionários da UNRWA em Gaza participaram no ataque. A UNRWA indicou que despediu nove funcionários, após uma investigação interna da ONU ter encontrado provas de que poderiam estar envolvidos.
O diretor considera que a perda do apoio dos EUA é "um desafio", mas sublinha que a agência está a apelar aos países árabes do Golfo e a outros doadores para que aumentem as suas contribuições. O responsável descreveu ainda a agência como alvo de uma "campanha de desinformação maciça" com o objetivo político de a desmantelar.
Lazzarini sinalizou ainda que aqueles que pensam que a UNRWA pode simplesmente ser dissolvida e as suas responsabilidades transferidas para outras instituições estão enganados.
E salientou que, embora possa ser substituída por uma instituição pública em funcionamento, a UNRWA presta serviços públicos essenciais que nenhuma outra agência da ONU oferece a esta escala. Tem servido como "substituto na ausência do Estado para os refugiados palestinianos", afirmou.
Defendeu, por isso, que a única forma de pôr termo ao mandato da agência é no âmbito de um processo político que resulte num Estado palestiniano ao lado de Israel, de modo a que "no final desse processo, a agência possa entregar os seus serviços a uma instituição palestiniana com poderes".
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