O dia de quinta-feira vai ser um recomeço para aqueles que para além de terem sido afetados pelas cheias de Espanha, também viviam numa situação irregular - uma ajuda que não será permanente, mas que podem ser uma oportunidade para estes milhares de pessoas.
A partir de dia 13 entra em vigor a regularização imediata da situação de 25 mil imigrantes que vivem nos municípios da região de Valência afetados pelas inundações de 29 de outubro, num procedimento extraordinário que visa evitar a desproteção destas pessoas.
A autorização é concedida atendendo a "circunstâncias excecionais" e tem a validade inicial de um ano. A partir daí, os beneficiários poderão solicitar a substituição por outro tipo de autorização de residência, trabalho ou outra prevista na lei de imigração de Espanha.
Jhon Jairo Londoño é uma das pessoas que vai beneficiar desta ajuda excecional. Chegou a Espanha em 2023, vindo da Colômbia. Conta a publicação El País que o homem de 49 anos veio com a sua família de Bogotá para fugir ao desemprego e à baixa qualidade de vida, mas que na Europa encontrou outras dificuldades, nomeadamente, em relação á documentação necessária para começar a trabalhar: "Temos experiência, diplomas, educação nos nossos países de origem, mas sem documentos não podemos iniciar a nossa integração neste país, principalmente porque não podemos ter um contrato de trabalho."
Ainda que o executivo espanhol fale de cerca de 25 mil pessoas, a organização não-governamental Oxfam dá conta de que haverá cerca de 40 mil imigrantes indocumentados residentes nas zonas afetadas pela catástrofe, que tirou a vida a mais de 200 pessoas e deixou a a zona destruída.
Há também casos que demoram mais do que um ano, como o de Samuel Aguirre, que está em Espanha há sete anos e que vai ser abrangido por esta regularização. "Fui pedreiro, cozinheiro, cabeleireiro, agricultor, jardineiro e cuidei de idosos. Tudo para ganhar a vida".
Aguirre veio das Honduras e conta que a falta de documentação limita bastante a sua integração no mercado de trabalho. "Não podemos frequentar qualquer curso de formação porque nos pedem o NIE (Número de Identificação de Estrangeiro), não podemos conduzir, nem regressar aos nossos países para ver os nossos filhos".
Com a documentação esperada, a sua vida poderá mudar, já assim será possível, para além de poupar algum dinheiro, "poderia encontrar um emprego estável, poupar dinheiro para alugar um apartamento ou trabalhar por conta própria".
Segundo o homem de 37 anos, o seu dia a dia passa-se entre as ruas da cidade de Turia, onde se oferece para a construção ou a hotelaria: "Há dias em que trabalho de graça para que um diretor de obra ou um cozinheiro me ponha à prova".
Já com a autorização para trabalhar, Aguirre poderá demonstrar a sua experiência "sem receio de não ser pago um dia", como conta que já lhe aconteceu - ou ser despedido sem pré-aviso.
Com a carteira de trabalho, explica, pode demonstrar a sua experiência, sem receio de não ser pago um dia, como já lhe aconteceu, ou de ser despedido sem aviso prévio.
Segundo explicou o governo espanhol, no caso de familiares de vítimas mortais das cheias, a validade da autorização de residência extraordinária é de cinco anos.
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