Síria? ONU alerta para falta de clareza no processo de transição política

O enviado especial das Nações Unidas (ONU) para a Síria, Geir Pedersen, alertou hoje para a falta de clareza no processo de transição política em curso no país e pediu "ações concretas" por parte das autoridades interinas.

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© FABRICE COFFRINI/AFP via Getty Images

Lusa
12/02/2025 19:00 ‧ há 3 horas por Lusa

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Síria

Num 'briefing' ao Conselho de Segurança da ONU sobre a situação política e humanitária na Síria, Geir Pedersen afirmou que "muitos detalhes sobre as próximas etapas" do processo de transição política "ainda não estão claros", apesar das autoridades interinas lhes terem prometido mudanças num curto espaço de tempo.

 

"Estamos ansiosos para ver esse compromisso traduzido em ações concretas", insistiu Pedersen, frisando que a ONU está pronta para trabalhar "de forma significativa e construtiva com as autoridades interinas nas próximas etapas".

Em 29 de janeiro, comandantes militares de vários grupos armados que participaram na ofensiva que derrubou o ex-Presidente sírio Bashar al-Assad realizaram uma conferência, na qual declararam Ahmed al-Charaa - o líder do antigo grupo rebelde islamita Organização para a Libertação do Levante (Hayat Tahrir al-Sham, HTS) - como o Presidente de transição da Síria.

No seu primeiro discurso à nação, em 30 de janeiro, Ahmed al-Charaa prometeu formar um Governo de transição inclusivo que refletirá a diversidade da Síria e governará o país até que possa realizar eleições livres e justas.

Anunciou ainda planos para unificar todos os territórios sírios, construir instituições estatais e reavivar a economia do país.

Numa entrevista em 04 de fevereiro, Ahmed al-Charaa estimou que o período de transição para organizar eleições duraria entre quatro a cinco anos e descreveu a sua visão futura da Síria como "uma República com um Parlamento e um Governo executivo".

Nas últimas semanas, Pedersen esteve na Síria, onde se reuniu com as autoridades interinas, incluindo com Ahmed al-Charaa e com o ministro dos Negócios Estrangeiros interino, Asaad Hassan al-Shaibani.

Na reunião de hoje no Conselho de Segurança, o enviado da ONU admitiu ter ficado "profundamente impressionado" com a convicção partilhada do povo sírio de que o sucesso da transição política da Síria "é essencial e que não pode falhar".

"Todos entendem que pode ser imperfeita. Mas muitos estão preocupados com o facto de não haver um Estado de Direito, sem uma estrutura constitucional ou legal para nomeações e decisões políticas, nem comunicação sistemática ou transparência. Alguns expressaram preocupações de que as autoridades interinas (...) estejam a tomar decisões que vão além de um modo interino, inclusive em termos de reestruturação de instituições estatais, com impacto potencial em comunidades específicas", ressalvou.

Geir Pedersen disse também que muitos sírios com quem falou expressaram preocupação com relatos de práticas discriminatórias direcionadas às mulheres.

O enviado da ONU alertou ainda que os esforços em direção a uma transição política estão a desenrolar-se numa situação de divisão territorial e conflito intenso no nordeste da Síria, cenário que avaliou como "extremamente preocupante".

"E há mais camadas de complexidade de segurança --- especialmente com a ameaça e presença contínuas do grupo 'jihadista' Estado Islâmico do Iraque e do Levante, áreas de vácuo de segurança e relatos de aumento nas taxas de criminalidade em algumas áreas", indicou.

Geir Pedersen abordou igualmente a presença israelita na zona dos Montes Golã, frisando que as Forças de Defesa de Israel (IDF) posicionaram forças dentro da zona-tampão estabelecida entre Israel e a Síria - que foi estabelecida em 1974 - e dentro do território sírio.

"Tais factos no terreno não são facilmente revertidos. Apelo ao Conselho de Segurança para manter Israel no seu compromisso de que esta é uma presença temporária e enfatizo que Israel deve retirar-se", instou.

A reunião de hoje contou também com um 'briefing' da secretária-geral adjunta da ONU para Assuntos Humanitários, Joyce Msuya, que alertou para a "imensa crise humanitária que afeta mais de 70% da população" síria.

Joyce Msuya frisou que a escassez de financiamento continua a representar uma enorme restrição à capacidade de expansão dos serviços humanitários, assinalando que dezenas de unidades de saúde correm o risco de encerramento e que os serviços de água e saneamento foram suspensos nos campos de deslocados no noroeste, afetando mais de 635 mil pessoas.

A responsável da ONU abordou ainda a suspensão de toda a ajuda internacional norte-americana decretada pelo novo Presidente, Donald Trump, com exceção dos programas humanitários alimentares e da ajuda militar a Israel e ao Egito.

De acordo com Msuya, o financiamento dos Estados Unidos em 2024 representou mais de um quarto do apoio ao Plano de Resposta Humanitária na Síria, sendo que esses atrasos ou suspensões de financiamento afetarão diretamente o acesso de pessoas vulneráveis ao auxilio humanitário.

"A ONU e os nossos parceiros apelam a 1,2 mil milhões de dólares (1,15 mil milhões de euros) para chegar a 6,7 milhões de pessoas até março deste ano, enquanto desenvolvemos um apelo completo para o resto do ano com base em novas avaliações", explicou ainda a representante.

Leia Também: Síria. ONU pede tempo para evitar confronto entre governo e curdos

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