O último sábado ficou marcado pela morte de um português, natural de Ermesinde, num ataque terrorista em Mulhouse, França. O que se sabe?
O ataque à faca ocorreu perto do mercado de Mulhouse e foi levado a cabo por um homem, de 37 anos, à margem de uma manifestação de apoio à República Democrática do Congo (RDCongo), palco de uma ofensiva, no leste, do movimento armado M23, apoiado pelo Ruanda. Além da morte do português, pelo menos três agentes da polícia municipal ficaram feridos, de acordo com a informação da Procuradoria Nacional Antiterrorista (Pnat), que assumiu a investigação.
Foi também a Procuradoria que revelou que, na verdade, o homem, de 69 anos, "interferiu no ataque", o que resultou na sua morte. Já depois disto, o Ministério Público de Mulhouse informava que a vítima era um cidadão português - algo que acabou por ser confirmado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal.
A tutela liderada por Paulo Rangel confirmou ser "um cidadão português de 69 anos que se encontrava no local" e "ter-se-á interposto entre os polícias e o atacante, tendo sido esfaqueado e morto".
O português era um emigrante natural de Ermesinde, casado e com um filho e, segundo o Ministério, vivia em França desde 1992.
O presidente francês, Emmanuel Macron, falou num "ato de terrorismo" e "islâmico", o que tenta "há oito anos erradicar" do país, ao falar à imprensa durante uma visita à Feira Agrícola de Paris. Segundo o jornal Le Figaro, que cita o Ministério Público local, o suspeito, nascido em 1987 na Argélia, estava acusado de terrorismo. O homem foi detido e foi emitida uma ordem para sair de França.
O atacante tinha sido expulso por várias vezes do país, com a Argélia a recusar os pedidos para o receber. O ministro do Interior francês, Bruno Retailleau, mostrou-se indignado com o facto de o autor do ataque, apesar de ter sido condenado por terrorismo e de "ter problemas psiquiátricos", estar "em liberdade em território francês" com uma ordem de expulsão do país.
Numa entrevista ao canal TF1, Retailleau insistiu que "a lei deve ser alterada para proteger melhor os franceses", referindo que pretende estabelecer um regime de "retenção de segurança" para pessoas com perturbações mentais "perigosas" quando saem da prisão.
Para o ministro do partido tradicional de direita, Republicanos (LR), "mais uma vez é o terrorismo islâmico que ataca, e mais uma vez as perturbações migratórias estão na origem deste ataque", já que foi emitida uma ordem de expulsão contra o argelino, que não foi executada porque a Argélia recusou os dez pedidos feitos pelos seus serviços.
Segundo o relato da Procuradoria Nacional Antiterrorista, o suspeito, Brahim A., de 37 anos, atacou vários polícias municipais na Praça do Mercado em Mulhouse, com algo semelhante a uma faca, enquanto gritava em árabe "Allah Akbar" ("Alá é grande").
A Pnat abriu um inquérito por crimes de homicídio terrorista e tentativa de homicídio terrorista de pessoas com autoridade.
As reações
Numa nota, publicada no site da Presidência da República, o chefe de Estado, Marcelo Rebelo de Sousa, apresentou as "mais sentidas condolências à família, amigos e à comunidade portuguesa" em Mulhouse e condenou "veementemente o ataque de ódio", mantendo-se em "contacto com o ministro dos Negócios Estrangeiros no acompanhamento à família da vítima".
Também o primeiro-ministro, Luís Montenegro, lamentou a morte do português que morreu "perante um ataque contra a comunidade que o acolheu" e destacou que "a sua valentia, que lhe custou a vida, poderá ter salvo tantas outras".
Além da posição do presidente francês, também o primeiro-ministro de França, François Bayrou, afirmou que "o fanatismo voltou a atacar" e deixou França "de luto". "Os meus pensamentos vão naturalmente para as vítimas e as suas famílias, com a firme esperança de que os feridos recuperem", acrescentou.
Vários políticos franceses se pronunciaram e de Bruxelas chegaram também reações, nomeadamente por parte do presidente do Conselho Europeu, António Costa, que apresentou as sinceras "condolências à família da vítima" e "profundo pesar aos feridos".
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