Numa reunião informal do plenário das Nações Unidas (ONU) para explicar os contornos da "Iniciativa ONU80" - um projeto que visa mudanças estruturais na própria organização multilateral -, Guterres defendeu a urgência de fundir unidades, eliminar duplicações funcionais e estruturais, e cortar nas funções que são desempenhadas noutras partes do sistema.
Esses cortes permitirão eliminar, por exemplo, "20% dos postos" dos Departamentos de Assuntos Políticos e de Consolidação da Paz (DPPA, na sigla em inclês) e de Operações de Manutenção da Paz (DPO) das Nações Unidas, explicou.
O projeto prevê um exercício semelhante de racionalização da parte civil das DPO e que todas as atividades antiterroristas sejam centralizadas exclusivamente no Escritório de Combate ao Terrorismo das Nações Unidas.
Noutra frente, foi pedido a todas as entidades do Secretariado da ONU em Nova Iorque e Genebra que revissem as suas funções para determinar se alguma delas "pode ser desempenhada em locais existentes de menor custo ou se pode ser reduzida ou abolida".
"Ao deslocar os postos de locais de elevado custo, podemos reduzir a nossa presença comercial" em determinadas cidades "e reduzir os nossos custos", declarou.
Guterres indicou que já foram feitas "poupanças consideráveis" em Nova Iorque - cidade onde está localizada a sede da ONU - ao rescindir o contrato de arrendamento de um edifício e a transferir os funcionários para outras instalações existentes.
"Esperamos fechar mais dois edifícios quando os seus contratos de arrendamento expirarem em 2027, com poupanças consideráveis", disse.
Embora o orçamento regular da ONU seja o foco imediato do ex-primeiro-ministro português, os esforços de eficiência incluirão "todo o Secretariado em todos os fluxos de financiamento".
"Esperamos reduções significativas ao nível orçamental geral", admitiu.
A ONU foi severamente afetada por cortes de financiamento do seu maior doador, os Estados Unidos, após a tomada de posse de Donald Trump como Presidente, em janeiro.
A iniciativa de Guterres surge no momento em que as Nações Unidas celebram o seu 80.º aniversário, e numa altura de sérias dúvidas sobre a capacidade da organização de trabalhar na resolução de conflitos, na ajuda alimentar aos mais vulneráveis ou no combate a doenças, entre outros aspetos.
"Estes são tempos de perigo. Mas são também tempos de profundas oportunidades e obrigações. A missão das Nações Unidas é mais urgente do que nunca", frisou hoje o líder da ONU, frisando que sempre teve como objetivo tornar a Organização mais eficiente, simplificar procedimentos, eliminar sobreposições e aumentar a transparência e a prestação de contas.
"A crise de liquidez que enfrentamos agora não é nova. Mas a atual situação financeira e política acrescenta ainda mais urgência aos nossos esforços. Enfrentamos ameaças reais à própria estrutura, valores, princípios e sustentabilidade do multilateralismo. (...) Temos de estar à altura deste momento", instou perante o corpo diplomático.
Na sua declaração, Guterres advogou que a medida do sucesso da ONU não se mede pelo volume de relatórios que gera ou o número de reuniões que convoca, mas sim pela "diferença real que faz na vida das pessoas".
Apesar da carga de trabalho da ONU aumentar de ano para ano, os recursos estão a diminuir em todos os setores, contribuindo para isso o facto de que nem todos os Estados-membros pagam na totalidade as obrigações anuais e muitos também não pagam a tempo.
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