Numa carta aberta ao reitor Amílcar Falcão, a que a agência Lusa teve acesso, o núcleo de Coimbra revelou que um dos principais problemas identificados "é a desigualdade na gestão dos programas doutorais entre diferentes unidades orgânicas".
"Embora o valor das propinas varie entre programas, a Fundação para a Ciência e Tecnologia financia um montante fixo de 2.750 euros por ano para o pagamento das propinas de todos os bolseiros. No entanto, a utilização do excedente entre este pagamento à UC e o real valor das propinas dos respetivos cursos, nos casos em que tal acontece, não é transparente nem uniforme".
A ABIC salientou que alguns programas permitem aos doutorandos aceder a parte daquele valor para cobrir despesas de investigação, mas outros não fornecem qualquer informação ou apoio relativamente a este excedente.
Além disso, "há unidades orgânicas que disponibilizam um plafond para aquisição de materiais ou participação em eventos científicos, enquanto outras não oferecem qualquer tipo de financiamento nem informação quanto a esta possibilidade".
Na carta aberta intitulada "Por um início de carreira de investigação digno na UC" consideraram também preocupante "a disparidade na atribuição de espaços físicos de trabalho a cada investigador".
"Em muitos casos, a atribuição de um espaço depende exclusivamente das condições e da boa vontade do orientador, gerando uma desigualdade inaceitável entre investigadores da mesma instituição".
A ABIC mostrou-se também preocupada com a precariedade que afeta os bolseiros de investigação, nomeadamente a abertura de concursos de bolsas de curta duração associadas a projetos de investigação em centros da UC.
"Apesar de ser uma possibilidade preconizada no Regulamento das Bolsas de Investigação, é preocupante a sua utilização por parte daquela instituição", referem, salientando que curtos períodos como os três meses de algumas bolsas, não sendo renovados os contratos por mais tempo, impossibilitam "uma adequada execução do trabalho científico, comprometendo a qualidade da investigação e a estabilidade dos investigadores".
Segundo a ABIC, os investigadores demonstram uma grande desmotivação e falta de reconhecimento por parte da UC quando, depois de um doutoramento e de terem contribuído para a investigação na instituição, "o que encontram são bolsas de investigação, especialmente se forem de curta duração".
A associação denunciou ainda a existência de cursos não conferentes de grau na UC sem qualquer programa curricular, em que os investigadores inscritos "desenvolvem trabalho científico relevante, mas não lhes é fornecida nenhuma componente letiva, sendo, ainda assim, obrigados a pagar propinas, cujo pagamento nem sempre é coberto pelas bolsas atribuídas".
"Apelamos, portanto, à adoção de medidas concretas para assegurar a equidade na gestão dos programas doutorais, a transparência na utilização dos fundos e a dignificação das condições de trabalho dos investigadores em início de carreira, bem como a valorização destes profissionais, substituindo a abertura de concursos de bolsas para projetos de investigação desenvolvidos na UC por contratos de trabalho", sintetizou a ABIC.
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